Textos sobre Valor de Jean-Marie Gustave Le Clézio

2 resultados
Textos de valor de Jean-Marie Gustave Le Clézio. Leia este e outros textos de Jean-Marie Gustave Le Clézio em Poetris.

O Absoluto do Ser

– Deus nĂŁo Ă© bom?
– NĂŁo, para falar com propriedade, Deus nĂŁo Ă© bom: Ă©. Bom, mau, sĂŁo pobres palavras que se aplicam a um conjunto de regras respeitantes a alguns pormenores da nossa vida material. Porque Ă© que Deus seria limitado pelas nossas pobres palavras e valores? NĂŁo, Deus nĂŁo Ă© bom. É mais do que isso. É a forma mais rica, mais completa, mais poderosa do ser, de qualquer maneira. Torna concreta a abstracção mesmo da forma do ser. E penso que o «envisagement» do ser nĂŁo podia ser possĂ­vel se Deus nĂŁo lhe tivesse dado anteriormente o seu estado. Deus Ă© a criação. É pois um princĂ­pio inextinguĂ­vel, nĂŁo orientado, a prĂłpria vida. Lembrem-se das palavras: «Eu sou Aquele que sou». Nenhuma outra palavra humana compreendeu e relatou melhor a forma divina. Intemporal, nĂŁo, nem sequer intemporal e infinita. O princĂ­pio. O facto de que hĂĄ qualquer coisa no lugar onde nĂŁo havia nada.
– Mas entĂŁo, Deus nĂŁo tem necessidade…
– E atĂ© mesmo para lĂĄ de toda a expressĂŁo. Se quiser, eu sou Deus. NĂŁo hĂĄ dĂșvida a sustentar, pergunta a fazer. VocĂȘ existe. Portanto Ă© Deus. VocĂȘ nĂŁo pode existir de outro modo.

Continue lendo…

A Sociedade Destroça o Indivíduo

Trata-se dum conjunto, dum todo, a sociedade, e, podre, uma vez que Ă© preciso contar com ela ao mesmo tempo que se nĂŁo deve contar. Quer dizer, Ă© como um conjunto estĂĄvel, composto por elementos instĂĄveis. Ora Ă© impossĂ­vel viver no interior, sem sofrer essa instabilidade, esse monte de mentiras. Surge entĂŁo o medo de utilizar o mĂ­nimo pormenor que participe dessa instabilidade. É a revolta. VocĂȘ duvida do valor das palavras, dos gestos, do que representam as palavras, das ideias, das simples associaçÔes de ideias, dos sonhos e atĂ© da realidade, das sensaçÔes mais claras, mais agudas. VocĂȘ duvida mesmo da sua dĂșvida, da organização que toma, da forma que adopta. NĂŁo lhe fica nada, nada. JĂĄ nĂŁo Ă© nada, Ă© um camaleĂŁo, um eco, uma sombra. Isso Ă© obra da sociedade, compreende?

J.-M. G.