Textos sobre Vez de Victor Hugo

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Textos de vez de Victor Hugo. Leia este e outros textos de Victor Hugo em Poetris.

O Meu Génio Vem de Ti

O que me acalma ou o que me agita, o que me torna alegre ou triste, o que refulge no meio da noite, a meu lado, e me alumia mil vezes melhor do que o candeeiro de trabalho, o que me encanta os dias durante os meus passeios solitários, os meus estudos, os meus devaneios, e até as mais enfadonhas tarefas, é a tua imagem, a lembrança de que existes, de que me amas, de que me esperas, de que pensas em mim! Se tenho algum génio, é de ti que me vem.

A Verdadeira Divisão Humana

Sois vós um daqueles a quem se chama feliz? Pois bem, vós estais tristes todos os dias. Cada dia tem uma grande amargura e um pequeno cuidado. Ontem tremíeis pela saúde de alguém que vos é caro, hoje receais pela vossa; amanhã será uma inquiteação de dinheiro, depois a diatribe de um caluniador ou a infelicidade de um amigo, mais tarde o mau tempo que faz, qualquer coisa que se quebrou ou se perdeu, uma vez um prazer que a vossa consciência e a coluna vertebral reprovam, outra vez a marcha dos negócios públicos. Isto sem contar as penas de coração. E assim sucessivamente. Uma nuvem que se dissipa e outra que se forma logo. Apenas um dia em cem de plena felicidade e cheio de sol. E sois desse pequeno número que é feliz! Quanto aos outros homens, envolve-os a noite estagnante.
Os espíritos reflectidos usam pouco desta locução: os felizes e os infelizes. Neste mundo, evidentemente vestíbulo de outro, não há felizes.
A verdadeira divisão humana é esta: os iluminados e os tenebrosos.
Diminuir o número dos tenebrosos e aumentar o dos iluminados, eis o fim. É por isso que nós gritamos: ensino, ciência! Aprender a ler,

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Vencidos tornam-se Vencedores

Só os povos bárbaros aumentam subitamente após uma vitória; são como a vaidade passageira das torrentes opulentas com as águas da tempestade.
Aos povos civilizados, porém, mormente no tempo em que vivemos, não os eleva ou abate a boa ou má fortuna de um capitão, porque o seu peso específico no género humano resulta de mais alguma coisa do que de um combate. Graças a Deus, a sua honra, dignidade, luz e génio não são números que os heróis conquistadores, que são verdadeiros jogadores, arrisquem na lotaria das batalhas. Muitas vezes a perda de uma batalha é a conquista do progresso. Deslustra-se a glória, mas engrandece-se, alarga-se, torna-se mais ampla a liberdade; emudece o tambor para deixar falar a razão. Jogo é este, pois, em que quem perde ganha.

O Belo é Necessário

Neste mundo o lindo é necessário. Há mui poucas funções tão importantes como esta de ser encantadora. Que desespero na floresta se não houvesse o colibri! Exalar alegrias, irradiar venturas, possuir no meio das coisas sombrias uma transmudação de luz, ser o dourado do destino, a harmonia, a gentileza, a graça, é favorecer-te. A beleza basta ser bela para fazer bem. Há criatura que tem consigo a magia de fascinar tudo quanto a rodeia; às vezes nem ela mesmo o sabe, e é quando o prestígio é mais poderoso; a sua presença ilumina, o seu contato aquece; se ela passa, ficas contente; se pára, és feliz; contemplá-la é viver; é a aurora com figura humana; não faz nada, nada que não seja estar presente, e é quanto basta para edenizar o lar doméstico; de todos os poros sai-lhe um paraíso; é um êxtase que ela distribui aos outros, sem mais trabalho que o de respirar ao pé deles. Ter um sorriso que – ninguém sabe a razão – diminui o peso da cadeia enorme arrastada em comum por todos os viventes, que queres que te diga? é divino.

Demasiada Abstracção Afoga o Espírito

Certa porção de abstracção melancólica pode ser tão útil como um narcótico em dose discreta, porque é uma coisa que adormenta as febres, às vezes renitentes, da inteligência em acção, e faz nascer no espírito um vapor brando e fresco, que corrige os contornos demasiado ásperos do pensamento puro, enche numa ou noutra parte lacunas e intervalos, liga os conjuntos e esfuma os ângulos das ideias. A muita abstracção, porém, submerge e afoga. Infeliz do operário de espírito que se deixa cair inteiramente do pensamento na abstracção. Julga que facilmente tornará a subir, e diz consigo que, afinal, ainda que não suba, é o mesmo. Erro!
O pensamento é o labor e a abstracção a voluptuosidade da inteligência. Substituir uma coisa por outra é confundir um veneno com um alimento.

O Perigo da Hesitação Prolongada

Toda a gente há-de ter notado o gosto que têm os gatos de parar e andar a passear entre os dois batentes de uma porta entreaberta. Quem há aí que não tenha dito a algum gato: «Vamos! Entras ou não entras?» Do mesmo modo, há homens que num incidente entreaberto diante deles, têm tendência para ficar indecisos entre duas resoluções, com o risco de serem esmagados, se o destino fecha repentinamente a aventura. Os prudentes em demasia, apesar de gatos ou porque são gatos, correm algumas vezes maior perigo do que os audaciosos.