A mais vil de todas as necessidades – a da confidência, a da confissão.
Passagens de Fernando Pessoa
1382 resultadosNão ser é outro ser.
Escrevo embalando-me, como uma mãe louca a um filho morto.
O pensamento, porém, poderoso como é, nada pode contra a rebeldia da emoção. Não podemos não sentir, como podemos não andar.
Entendemo-nos porque nos ignoramos.
Um jardim é um resumo da civilização – uma modificação anónima da Natureza.
Dá-se em mim uma suspensão da vontade, da emoção, do pensamento, e esta suspensão dura magnos dias. (…) Nesses períodos de sombra, sou incapaz de pensar, de sentir, de querer. (…) Não posso; é como se dormisse e os meus gestos, as minhas palavras, os meus atos certos, não fossem mais que uma respiração periférica, instinto rítmico de um organismo qualquer.
Uma espécie de anteneurose do que serei quando já não for gela-me o corpo e alma. Uma como que lembrança da minha morte futura arrepia-me dentro.
Como é por dentro outra pessoa
O espelho refleti certo; só não erra porque não pensa.
Cansa ser, sentir dói, pensar destrui.
As Tuas Mãos Terminam Em Segredo
As tuas mãos terminam em segredo.
Os teus olhos são negros e macios
Cristo na cruz os teus seios (?) esguios
E o teu perfil princesas no degredo…Entre buxos e ao pé de bancos frios
Nas entrevistas alamedas, quedo
O vendo põe o seu arrastado medo
Saudoso o longes velas de navios.Mas quando o mar subir na praia e for
Arrasar os castelos que na areia
As crianças deixaram, meu amor,Será o haver cais num mar distante…
Pobre do rei pai das princesas feias
No seu castelo à rosa do Levante !
Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda a gente.
Toda a literatura consiste num esforço para tornar a vida real.
A essência do progresso é decadência. Progredir é morrer, porque viver é morrer.
Outras vezes oiço passar o vento, E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Que é a arte senão a negação da vida?
Para que um homem possa ser distintivamente e absolutamente moral, tem que ser um pouco estúpido.
Nenhuma Época Transmite a Outra a sua Sensibilidade
Nenhuma época transmite a outra a sua sensibilidade; transmite-lhe apenas a inteligência que teve dessa sensibilidade. Pela emoção somos nós; pela inteligência somos alheios. A inteligência dispersa-nos; por isso é através do que nos dispersa que nos sobrevivemos. Cada época entrega às seguintes apenas aquilo que não foi.
Um deus, no sentido pagão, isto é, verdadeiro, não é mais que a inteligência que um ente tem de si próprio, pois essa inteligência, que tem de si próprio, é a forma impessoal, e por isso ideal, do que é. Formando de nós um conceito intelectual, formamos um deus de nós próprios. Raros, porém, formam de si próprios um conceito intelectual, porque a inteligência é essencialmente objectiva. Mesmo entre os grandes génios são raros os que existiram para si próprios com plena objectividade.
Viver é pertencer a outrem. Morrer é pertencer a outrem. Viver e morrer são a mesma coisa. Mas viver é pertencer a outrem de fora, e morrer é pertencer a outrem de dentro. As duas coisas assemelham-se, mas a vida é o lado de fora da morte. Por isso a vida é a vida e a morte a morte, pois o lado de fora é sempre mais verdadeiro que o lado de dentro,
Cessa o Teu Canto!
Cessa o teu canto!
Cessa, que, enquanto
O ouvi, ouvia
Uma outra voz
Com que vindo
Nos interstícios
Do brando encanto
Com que o teu canto
Vinha até nós.Ouvi-te e ouvi-a
No mesmo tempo
E diferentes
Juntas cantar.
E a melodia
Que não havia.
Se agora a lembro,
Faz-me chorar.