Poemas sobre Bem de José Saramago

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Poemas de bem de José Saramago. Leia este e outros poemas de José Saramago em Poetris.

Teu Corpo de Terra e Água

Teu corpo de terra e ĂĄgua
Onde a quilha do meu barco
Onde a relha do arado
Abrem rotas e caminho

Teu ventre de seivas brancas
Tuas rosas paralelas
Tuas colunas teu centro
Teu fogo de verde pinho

Tua boca verdadeira
Teu destino minha alma
Tua balança de prata
Teus olhos de mel e vinho

Bem que o mundo nĂŁo seria
Se o nosso amor lhe faltasse
Mas as manhĂŁs que nĂŁo temos
São nossos lençóis de linho

NĂŁo me Peçam RazĂ”es…

Não me peçam razÔes, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razÔes são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razÔes por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
NĂŁo fiz a lei e o mundo nĂŁo aceito.

Não me peçam razÔes, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite Ă© de mais Ă© que amanhece
A cor de primavera que hĂĄ-de vir.

Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lĂĄ bem que desejo
De mais alto que nĂłs, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde nĂŁo chove.

Mas o mundo, astronauta, Ă© boa mesa
Onde come, brincando, sĂł a fome,
SĂł a fome, astronauta, sĂł a fome,
E sĂŁo brinquedos as bombas de napalme.