Poemas sobre Casas de Vitorino Nemésio

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Poemas de casas de Vitorino Nemésio. Leia este e outros poemas de Vitorino Nemésio em Poetris.

Teu SĂł Sossego aqui Contigo Ausente

Teu sĂł sossego aqui contigo ausente
Na casa que te veste Ă  justa de paredes,
Tenho-te em mĂłveis, nos perfumes, na semente
Dos cuidados que deixas ao partir,
A doce estância toda povoada
Dos mĂ­nimos sinais, dos sapatos de plinto
Que te elevam, TerpsĂ­core ou MnemĂłsine,
Como uma estátua fiel ao labirinto.
Aqui, androceu da flor, o cálice abre aromas,
Farmácia chamo à tua colecção de vidros
Onde, Ă  margem de planos e de somas,
Tenho remédio para os meus alvidros.
O chá é forte e adstringente,
O leite grosso sabe Ă  ordenha,
E até nos quadros vive gente
Ă€ espera que a dona venha.
Porque tudo nos tectos Ă© coroa,
No chão as traînes, os passinhos salpicados
Como o vento ainda longe de Lisboa
Escolheu a gaivota do balanço
Que no cais engolfado melhor voa:
Um vácuo, enfim, que o não será — tão logo
Chegues no ar medido e a aço propulso:
Por isso um pouco de fogo
Bate sanguĂ­neo em meu pulso,
Pois o amor de quem espera
É uma graça a vencer.

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Natal Chique

Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vĂŁ desaparece
Na muita pressa e pouco amor.

Hoje Ă© Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um prĂ­ncipe esfarrapado
A quem dĂŁo coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
SĂł esse pobre me pareceu Cristo.

Já Velho e Doente

«Seja a terra da Terceira
A minha coberta de alma»,
Disse eu na idade fagueira,
Em que tudo é força e calma.

Mas hoje, já velho e doente,
Em que as almas nĂŁo se cobrem,
Hoje sim, peço seriamente
Que os sinos por mim lá dobrem.

Até já me aconselharam
Um quarto lá no Hospital,
Tanto caipora me acharam,
Escaveirado, mal, mal…

Ali visitas teria
Por obra de misericĂłrdia,
Embora comida fria,
Alguma vez, que mixĂłrdia!

Mas sempre era doce ao peito
Ir acabar os meus dias
Na Praia, de qualquer jeito,
Perto da casa das tias.

Tive o exemplo resignado
Que me deu a prima Alzira
Num lençolinho lavado
Com rendas limpas na vira.

Ali matámos saudades,
Ela alegre e penteadinha,
Mal pensando eu que as idades
NĂŁo perdoam. Hoje Ă© a minha.

Também cheguei a pensar
No Asilo, talvez com um biombo.
Sou biqueiro. Mas jantar?
Todos ali, lombo a lombo.

Como outrora o Tintaleis,
TrĂŞs-Quinze, Manuel de Deus
Eram duas vezes seis,

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