Poemas sobre Céu de Eugénio de Castro

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Poemas de céu de Eugénio de Castro. Leia este e outros poemas de Eugénio de Castro em Poetris.

Amores

a Jean Moréas

Judite, a loura e magra que ora vive
Entre palmas e mirra, nas novenas;
Dulce, a de peitos de hidromel e penas,
Com quem libidinosas noites tive;
Maria a ingénua, a plåcida e macia,
Ingénua como um pintassilgo e pura
Como um mĂȘs de Maria;
LĂ­dia, a trigueira hostil, severa e dura,
E FĂĄbia, a de olhos perturbantes, lassos,
E de morenas, aprilinas pomas,
Fåbia, cujos abraços
Me vestiam de aromas
Todas adorei,
Todas me adoraram
Quando as desprezei.

Antes de as possuir, antes de as subjugar
Co’a força do meu verbo e a luz do meu olhar,
Em cada uma eu via o céu aberto;
Mas apenas ao peito as comprimia,
O meu entusiasmo arrefecia
E o céu sonhado transformava-se em deserto


Ante a posse, os desejos esmorecem;
Do amor na amarga pugna,
Fui como os doentes que tudo apetecem
E a quem tudo repugna

O DilĂșvio

HĂĄ muitos dias jĂĄ, hĂĄ jĂĄ bem longas noites
que o estalar dos vulcÔes e o atroar das torrentes
ribombam com furor, quais råbidos açoites,
ao crebro rutilar dos coriscos ardentes.

Pradarias, vergéis, hortos, vinhedos, matos,
tudo desapar’ceu ao rude desabar
das constantes, hostis, raivosas cataratas,
que fizeram da Terra um grande e torvo mar.

À flor do torvo mar, verde como as gangrenas,
onde homens e leÔes bóiam agonizantes,
imprecando com fĂșria e angĂșstia, erguem-se apenas,
quais monstros colossais, as montanhas gigantes.

É aí que, ululando, os homens como as feras
refugiar-se vĂŁo em trĂĄgicos cardumes,
O mar sobe, o mar cresce. e os homens e as panteras,
crianças e reptis caminham para os cumes.

Os fortes, sem haver piedade que os sujeite,
arremessam ao chĂŁo pobres velhos cansados.
e as mães largam. cruéis, os filhinhos de leite,
que os que seguem depois pisam, alucinados.

Um sinistro pavor; crescente e sufocante,
desnorteia, asfixia a turba pertinaz:
ouvem-se urros de dor, e os que vĂŁo adiante
lançam pedras brutais aos que ficam pra trås.

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