Porque Há Desejo em Mim
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo Ă minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde nĂŁo havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.
Poemas sobre Desejos de Hilda Hilst
4 resultadosVer-te. Tocar-te
Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vĂvidoo mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resĂduos. Me vĂŞm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.
Lembra-te que há um Querer Doloroso
Lembra-te que há um querer doloroso
E de fastio a que chamam de amor.
E outro de tulipas e de espelhos
Licencioso, indigno, a que chamam desejo.
Há o caminhar um descaminho, um arrastar-se
Em direção aos ventos, aos açoites
E um único extraordinário turbilhão.
Porque me queres sempre nos espelhos
Naquele descaminhar, no pĂł dos impossĂveis
Se sĂł me quero viva nas tuas veias?
Existe a Noite
Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor nĂŁo mais procuro.
Breu Ă© quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Esse da carne, a mim nĂŁo me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quĂŞ? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.