Poema da Voz que Escuta

Chamam-me lá em baixo.
SĂŁo as coisas que nĂŁo puderam decorar-me:
As que ficaram a mirar-me longamente
E nĂŁo acreditaram;
As que sem coração, no relâmpago do grito,
NĂŁo puderam colher-me.
Chamam-me lá em baixo,
Quase ao nĂ­vel do mar, quase Ă  beira do mar,
Onde a multidĂŁo formiga
Sem saber nadar.
Chamam-me lá em baixo
Onde tudo Ă© vigoroso e opaco pelo dia adiante
E transparente e desgraçado e vil
Quando a noite vem, criança distraída,
Que debilmente apaga os traços brancos
Deste quadro negro – a Vida.
Chamam-me lá em baixo:
Voz de coisas, voz de luta.
É uma voz que estala e mansamente cala
E me escuta.