Poemas sobre Dor de Vitorino Nemésio

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Poemas de dor de Vitorino Nemésio. Leia este e outros poemas de Vitorino Nemésio em Poetris.

Violada

PossuĂ­ram-te nas ervas,
Deitada ao comprido
Ou lívida a pé:
Do estupro conservas
O sangue e o gemido
Na morte da fé.

Chegaste a cavalo
Trémula de espanto:
Esperavas levĂĄ-lo
Com modos de amor:
O fĂĄtum, num canto,
Violento ceifou-te
O pĂșbis em flor:
Dou-te
O acalanto
Mas nĂŁo hĂĄ palavras
Para tal horror!

Vem ainda em cĂłs, mulher,
Limpa as tuas lågrimas no meu lenço:
Nem pela dor sequer
Eu te pertenço.

O cavalo fugiu,
Deixou-te em fogo a fralda:
Que malfeliz RoldĂŁo
Para tal Alda!
Ao frio, ao frio,
Tinta de ti Ă© a ĂĄgua e sangue o chĂŁo.

Ponta Delgada a arder
Do prĂłprio pejo, quis
Em verde converter
O incĂȘndio do teu pĂșbis.

Mulher, nĂŁo me dĂȘs guerra,
Oh trĂĄgica enganada:
Tu és a minha terra
Na carne devastada
Como a Ilha queimada.

Tenho uma Saudade tĂŁo Braba

Tenho uma saudade tĂŁo braba
Da ilha onde jĂĄ nĂŁo moro,
Que em velho sĂł bebo a baba
Do pouco pranto que choro.

Os meus parentes, com dĂł,
Bem que me querem levar,
Mas talvez que nem meu pĂł
Mereça a Deus lå ficar.

Enfim, sĂł Nosso Senhor
HĂĄ-de decidir se posso
Morrer lĂĄ com esta dor,
A meio de um Padre Nosso.

Quando se diz «Seja feita»
Eu sentirei na garganta
A mĂŁo da Morte, direita
A este peito, que ainda canta.

Pedra de Canto

Ainda terĂĄs alento e pedra de canto,
Mito de Pégaso, patada de sangue da mentira,
Para cantar em sĂ­labas ĂĄsperas o canto,
De rima em -anto, o pranto,
O amor, o apego, o sossego, a rima interna
Das almas calmas, isto e aquilo, o canto
Do pranto em pedra aparelhada a corpo e escopro,
O estupro de outrora, a triste vida dela, o canto,
Buraco onde te metes, duplamente: com falo,
Falas, fĂĄ-la chorar e ganir, com falo o canto
No buraco de grilo onde anoiteces,
No buraco de falso eremita onde conheces
Teu nada, o dela, o buraco dela, o canto
De pedra, sim, canteiro por cantares e aparelhares
Com ela em rua e cama o falo fĂĄ-la cheia,
Canteiro porque o falo a julga flores, o canto
Áspero do canteiro de pedra e sémen que tu és
(No buraco do falo falaste),
Tu, falazĂŁo de amor, que a amas e conheces.
Amas a quem? Conheces quem? Pobre Hipocrene,
Apolo de pataco, CamÔes binocular, poeta de merda,

Embora isso em sangue dessa pobre alma em ferida:
A dela,

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