Poemas sobre Fantasmas de José Jorge Letria

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Poemas de fantasmas de José Jorge Letria. Leia este e outros poemas de José Jorge Letria em Poetris.

Com uma Estrela na Voz

Que voz Ă© esta? De onde vem?
Que fantasmas antigos desperta
quando tudo o mais parece
ferido pela imobilidade de um sono de pedra?

Corres agora atrĂĄs das vozes
acantonadas nas arcas de Dezembro
e o que buscas Ă© uma centelha de riso,
o fugaz cristal de uma lĂĄgrima,
o aconchego de uma carĂ­cia
capaz de vergar a noite ao peso
imaterial de um instante de ternura.

É só isso que buscas, nada mais.
E tudo o que buscas
é uma lança que trespassa a morte
tantas vezes anunciada
no mudo sofrimento dos animais.

E se, buscando, Ă© a luz que encontras,
ergue-a entĂŁo como um estandarte
na hora de todos os fingimentos
e continua buscando até descobrires
que a voz que persegues e quase te enlouquece
Ă© a tua prĂłpria voz soletrando nos portais
os nomes piedosos e lĂ­mpidos
de quem chega um dia no rasto de uma estrela.

Ode aos Natais Esquecidos

Eu vinha, pé ante pé, em busca da pequena porta
que dava acesso aos mistérios da noite,
daquela noite em particular, por ser a mais terna
de todas as noites que a minha memĂłria
era capaz de guardar, com letras e sons,
no seu bojo de coisas imateriais e imperecĂ­veis.
Tinha comigo os cĂŁes e os retratos dos mortos,
a lembrança de outras noites e de outros dias,
os brinquedos cansados da solidĂŁo dos quartos,
os cadernos invadidos pĂȘlos saberes inĂșteis.
E todos me diziam que era ainda muito cedo,
porque a meia-noite morava jĂĄ dentro do sono,
no territĂłrio dos anjos e dos outros seres alados,
hora inatingĂ­vel a clamar pela nossa paciĂȘncia,
meninos hirtos de olhos fixos na claridade
enganadora de uma ĂĄrvore sem nome.

Depois, o meu pai morreu e as minhas ilusÔes também.
Tudo se tornou gélido, esquivo e distante
como a tristeza de um fantasma confrontado
com a beleza da vida para sempre perdida.
Deixaram de me dar presentes e de dizer
que era o Menino Jesus que os trazia
para premiar a minha grandeza de alma,

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