Poemas sobre FĂ© de Ricardo Reis

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Poemas de fé de Ricardo Reis. Leia este e outros poemas de Ricardo Reis em Poetris.

NĂŁo Sejamos Inteiros numa FĂ© talvez sem Causa

Meu gesto que destrĂłi
A mole das formigas,
TomĂĄ-lo-ĂŁo elas por de um ser divino;
Mas eu nĂŁo sou divino para mim.

Assim talvez os deuses
Para si o nĂŁo sejam,
E sĂł de serem do que nĂłs maiores
Tirem o serem deuses para nĂłs.

Seja qual for o certo,
Mesmo para com esses
Que cremos serem deuses, nĂŁo sejamos
Inteiros numa fé talvez sem causa.

É tão Suave a Fuga deste Dia

É tão suave a fuga deste dia,
LĂ­dia, que nĂŁo parece, que vivemos.
Sem dĂșvida que os deuses
Nos sĂŁo gratos esta hora,

Em paga nobre desta fé que temos
Na exilada verdade dos seus corpos
Nos dĂŁo o alto prĂȘmio
De nos deixarem ser

Convivas lĂșcidos da sua calma,
Herdeiros um momento do seu jeito
De viver toda a vida
Dentro dum sĂł momento,

Dum sĂł momento, LĂ­dia, em que afastados
Das terrenas angĂșstias recebemos
OlĂ­mpicas delĂ­cias
Dentro das nossas almas.

E um sĂł momento nos sentimos deuses
Imortais pela calma que vestimos
E a altiva indiferença
Às coisas passageiras

Como quem guarda a c’roa da vitĂłria
Estes fanados louros de um sĂł dia
Guardemos para termos,
No futuro enrugado,

Perene Ă  nossa vista a certa prova
De que um momento os deuses nos amaram
E nos deram uma hora
NĂŁo nossa, mas do Olimpo.