NĂłs Somos Vida das Gentes

Sempre Ă© morto quem do arado
há-de viver.

NĂłs somos vida das gentes,
e morte de nossas vidas;
a tiranos pacientes
que a unhas e a dentes
nos tĂŞm as almas roĂ­das.
Pera que Ă© parouvelar?
Que queira ser pecador
o lavrador,
nĂŁo tem tempo nem lugar
nem somente d’alimpar
as gotas do seu suor.

N’ergueija bradam co’ele,
porque assoviou a um cĂŁo;
e logo excomunhĂŁo na pele,
o fidalgo, maçar nele,
atá o mais triste rascão.
Se nĂŁo levam torta a mĂŁo,
nĂŁo lhe acham nenhum dereito.
Muito atribulados sĂŁo!
Cada um pela o vilĂŁo
per seu jeito.

Trago a prepĂłsito isto,
perque veio a bem de fala.
Manifesto está e visto
que o bento Jesu Cristo
deve ser homem de gala.
E Ă© rezĂŁo que nos valha
neste serĂŁo glorioso,
que Ă© gram refĂşgio sem falha.
Isto me faz forçoso,
e nĂŁo estou temeroso
nemigalha.

(excerto)