Poemas sobre Gentileza

4 resultados
Poemas de gentileza escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Os Arlequins – SĂĄtira

Musa, depÔe a lira!
Cantos de amor, cantos de glĂłria esquece!
Novo assunto aparece
Que o gĂȘnio move e a indignação inspira.
Esta esfera Ă© mais vasta,
E vence a letra nova a letra antiga!
Musa, toma a vergasta,
E os arlequins fustiga!

Como aos olhos de Roma,
— CadĂĄver do que foi, pĂĄvido impĂ©rio
De Caio e de TibĂ©rio, —
O filho de Agripina ousado assoma;
E a lira sobraçando,
Ante o povo idiota e amedrontado,
Pedia, ameaçando,
O aplauso acostumado;

E o povo que beijava
Outrora ao deus CalĂ­gula o vestido,
De novo submetido
Ao régio saltimbanco o aplauso dava.
E tu, tu nĂŁo te abrias,
Ó cĂ©u de Roma, Ă  cena degradante!
E tu, tu nĂŁo caĂ­as,
Ó raio chamejante!

Tal na histĂłria que passa
Neste de luzes século famoso,
O engenho portentoso
Sabe iludir a néscia populaça;
NĂŁo busca o mal tecido
Canto de outrora; a moderna insolĂȘncia
NĂŁo encanta o ouvido,
Fascina a consciĂȘncia!

Vede; o aspecto vistoso,
O olhar seguro,

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Bela D’Amor

Pois essa luz cintilante
Que brilha no teu semblante
Donde lhe vem o ‘splendor?
NĂŁo sentes no peito a chama
Que aos meus suspiros se inflama
E toda reluz de amor?

Pois a celeste fragrĂąncia
Que te sentes exalar,
Pois, dize, a ingénua elegùncia
Com que te vĂȘs ondular
Como se baloiça a flor
Na Primavera em verdor,
Dize, dize: a natureza
Pode dar tal gentileza?
Quem ta deu senĂŁo amor?

VĂȘ-te a esse espelho, querida,
Ai!, vĂȘ-te por tua vida,
E diz se hå no céu estrela,
Diz-me se hĂĄ no prado flor
Que Deus fizesse tĂŁo bela
Como te faz meu amor.

Delicadeza

Essa delicadeza, cada vez mais difĂ­cil, pela qual se perde
a vida, como a entendo,
pratico.
Essa subtileza de pesadelo branco, como a sinto
extrema sempre,
Ă s vezes.
IngĂ©nua – um animal discreto; sem dono
e sem direitos.
Por ela arrisco um aceitar alguém
que nunca foi
criança.
Um ler que me não prende mais a atenção, um ser gentil
para com uma pessoa ingrata
– um cultivar uma paixĂŁo isenta
“dos cardos do contacto”.
Um nĂŁo precisar esclarecer seja o que for,
pois tudo na vida Ă© afinal
bem mais sério
do que parece.
É por essa gentileza
que se um grito me chega ao ouvido
prefiro escutar nele o cheiro de um corpo que se perdeu
do meu
e ainda assim dizer
Deus seja louvado,
oxalĂĄ ele consiga agora ficar
silencioso qual rasto de leitura sem palavra.
Sim, Ă© por essa gentileza, mulher poeta ou homem sensĂ­vel
– nĂŁo me distingo nem de um nem do outro -,
que muito embora as minhas esperanças
se tenham desfeito hĂĄ muito
me permito,

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Como, Morte, Temer-te?

Como, morte, temer-te?
NĂŁo estĂĄs aqui comigo, a trabalhar?
NĂŁo te toco em meus olhos; nĂŁo me dizes
que não sabes de nada, que és vazia,
inconsciente e pacĂ­fica? NĂŁo gozas,
comigo, tudo: glĂłria, solidĂŁo,
amor, até tuas entranhas?
NĂŁo me estĂĄs a sustentar,
morte, de pé, a vida?
NĂŁo te levo e trago, cego,
como teu guia? NĂŁo repetes
com tua boca passiva
o que quero que digas? NĂŁo suportas,
escrava, a gentileza com que te obrigo?

Tradução de José Bento