Conhecimento do Amor

Amor, como o compreendo agora, Ă© mais
renĂșncia que desejo. Outrora hostil,
agressivo, hoje sĂșplica, murmĂșrio
Ă­ntimo, cinzas em silĂȘncio, amor,
Ă  morte assemelhando-se, besouro
em agonia, dor da perda, o sonho
estraçalhado, renunciar, renu-
nciar sempre, e sem espera, ao corpo amado.

A vida me consente essa amargura
e Ă© preciso vivĂȘ-la sem demora,
abrir os olhos, aceitar a sombra,
meditar sem rancor a decepção —
instante em que a mulher se distancia
e a voz ao telefone ri tranquila
anunciando a partida: outros braços,
agora, amor, mesclado de impotĂȘncia
e irrisĂŁo, lĂĄgrimas que nĂŁo se mostram.

Toda renĂșncia compĂ”e jogo amargo
de desespero e morte. Renunciar,
ainda que de joelhos, deitado, o corpo
ansiando pelo teu amor se fira,
e o coração, tumulto, empalideça
e nada reste enfim que a vida mesma,
percorrida com calma e indiferença.

Assim, amor, te compreendo agora:
— devoção malquerida a toda hora.