Poemas sobre Infortúnio de Filinto Elísio

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Poemas de infortúnio de Filinto Elísio. Leia este e outros poemas de Filinto Elísio em Poetris.

Ode à Esperança

1

Vem, vem, doce Esperança, único alívio
Desta alma lastimada;
Mostra, na c’roa, a flor da Amendoeira,
Que ao Lavrador previsto,
Da Primavera próxima dá novas.

2

Vem, vem, doce Esperança, tu que animas
Na escravidão pesada
O aflito prisioneiro: por ti canta,
Condenado ao trabalho,
Ao som da braga, que nos pés lhe soa,

3

Por ti veleja o pano da tormenta
O marcante afouto:
No mar largo, ao saudoso passageiro,
(Da sposa e dos filhinhos)
Tu lhe pintas a terra pelas nuvens.

4

Tu consolas no leito o lasso enfermo,
C’os ares da melhora,
Tu dás vivos clarões ao moribundo,
Nos já vidrados olhos,
Dos horizontes da Celeste Pátria.

5

Eu já fui de teus dons também mimoso;
A vida largos anos
Rebatida entre acerbos infortúnios
A sustentei robusta
Com os pomos de teus vergéis viçosos.

6

Mas agora, que Márcia vive ausente;
Que não me alenta esquiva
C’o brando mimo dum de seus agrados,

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Ode à Amizade

Se depois do infortúnio de nascermos
Escravos da Doença e dos Pesares
Alvos de Invejas, alvos de Calúnias
Mostrando-nos a campa
A cada passo aberta o Mar e a Terra;
Um raio despedido, fuzilando
Terror e morte, no rasgar das nuvens
O tenebroso seio
A Divina Amizade não viera
Com piedosa mão limpar o pranto,
Embotar com dulcíssono conforto
As lanças da Amargura;
O Sábio espedaçara os nós da vida
Mal que a Razão no espelho da Experiência
Lhe apontasse apinhados inimigos
C’o as cruas mãos armadas;
Terna Amizade, em teu altar tranquilo
Ponho — por que hoje, e sempre arda perene
O vago coração, ludíbrio e jogo
Do zombador Tirano.
Amor me deu a vida: a vida enjeito,
Se a Amizade a não doura, a não afaga;
Se com mais fortes nós, que a Natureza,
Lhe não ata os instantes.
Que só ditosos são na aberta liça
Dois mortais, que nos braços da Amizade,
Estreitos se unem, bebem de teu seio
Nectárea valentia.
Tu cerceias o mal, o bem dilatas,
E as almas que cultivas cuidadosa,

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Desafogo

Onde estás, oh Filósofo indefesso
Pio sequaz da rígida Virtude,
Tão terna a alheios, quanto a si severa?
Com que mágoa, com que ira olharas hoje
Desprezada dos homens, e esquecida
Aquela ânsia, que em nós pousou Natura
No âmago do peito, — de acudir-nos
Co’as forças, c’o talento, co’as riquezas
À pena, ao desamparo do homem justo!
Que (baldão da fortuna iníqua) os Deuses
Puseram para símbolo do esforço,
Lutando a braços c’o áspero infortúnio?
Pedra de toque em que luzisse o ouro
De sua alma viril, onde encravassem
Seus farpões mais agudos as Desgraças,
E os peitos de virtude generosa
Desferissem poderes de árduo auxílio?
Que nunca os homens são mais sobre-humanos
Mais comparados c’os sublimes Numes,
Que quando acodem com socorro activo,
Não manchado de sórdido interesse,
Nem do fumo de frívola ufania;
Ou cheios de valor e de constância
Arrostam co’a medonha catadura
Da Desgraça, que apura iradas mágoas
Na casa nua do varão honesto.
Mas Grécia e Roma há muito que acabaram;
E as cinzas dos Heróis fortes e humanos,

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