Ode à Esperança
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Vem, vem, doce Esperança, Ășnico alĂvio
Desta alma lastimada;
Mostra, na c’roa, a flor da Amendoeira,
Que ao Lavrador previsto,
Da Primavera prĂłxima dĂĄ novas.2
Vem, vem, doce Esperança, tu que animas
Na escravidĂŁo pesada
O aflito prisioneiro: por ti canta,
Condenado ao trabalho,
Ao som da braga, que nos pés lhe soa,3
Por ti veleja o pano da tormenta
O marcante afouto:
No mar largo, ao saudoso passageiro,
(Da sposa e dos filhinhos)
Tu lhe pintas a terra pelas nuvens.4
Tu consolas no leito o lasso enfermo,
C’os ares da melhora,
Tu dås vivos clarÔes ao moribundo,
Nos jĂĄ vidrados olhos,
Dos horizontes da Celeste PĂĄtria.5
Eu jå fui de teus dons também mimoso;
A vida largos anos
Rebatida entre acerbos infortĂșnios
A sustentei robusta
Com os pomos de teus vergéis viçosos.6
Mas agora, que MĂĄrcia vive ausente;
Que nĂŁo me alenta esquiva
C’o brando mimo dum de seus agrados,
Poemas sobre InfortĂșnio de Filinto ElĂsio
3 resultadosOde Ă Amizade
Se depois do infortĂșnio de nascermos
Escravos da Doença e dos Pesares
Alvos de Invejas, alvos de CalĂșnias
Mostrando-nos a campa
A cada passo aberta o Mar e a Terra;
Um raio despedido, fuzilando
Terror e morte, no rasgar das nuvens
O tenebroso seio
A Divina Amizade nĂŁo viera
Com piedosa mĂŁo limpar o pranto,
Embotar com dulcĂssono conforto
As lanças da Amargura;
O Såbio espedaçara os nós da vida
Mal que a RazĂŁo no espelho da ExperiĂȘncia
Lhe apontasse apinhados inimigos
C’o as cruas mĂŁos armadas;
Terna Amizade, em teu altar tranquilo
Ponho â por que hoje, e sempre arda perene
O vago coração, ludĂbrio e jogo
Do zombador Tirano.
Amor me deu a vida: a vida enjeito,
Se a Amizade a nĂŁo doura, a nĂŁo afaga;
Se com mais fortes nĂłs, que a Natureza,
Lhe nĂŁo ata os instantes.
Que só ditosos são na aberta liça
Dois mortais, que nos braços da Amizade,
Estreitos se unem, bebem de teu seio
NectĂĄrea valentia.
Tu cerceias o mal, o bem dilatas,
E as almas que cultivas cuidadosa,
Desafogo
Onde estĂĄs, oh FilĂłsofo indefesso
Pio sequaz da rĂgida Virtude,
TĂŁo terna a alheios, quanto a si severa?
Com que mĂĄgoa, com que ira olharas hoje
Desprezada dos homens, e esquecida
Aquela Ăąnsia, que em nĂłs pousou Natura
No Ăąmago do peito, â de acudir-nos
Co’as forças, c’o talento, co’as riquezas
Ă pena, ao desamparo do homem justo!
Que (baldĂŁo da fortuna inĂqua) os Deuses
Puseram para sĂmbolo do esforço,
Lutando a braços c’o ĂĄspero infortĂșnio?
Pedra de toque em que luzisse o ouro
De sua alma viril, onde encravassem
Seus farpÔes mais agudos as Desgraças,
E os peitos de virtude generosa
Desferissem poderes de ĂĄrduo auxĂlio?
Que nunca os homens sĂŁo mais sobre-humanos
Mais comparados c’os sublimes Numes,
Que quando acodem com socorro activo,
NĂŁo manchado de sĂłrdido interesse,
Nem do fumo de frĂvola ufania;
Ou cheios de valor e de constĂąncia
Arrostam co’a medonha catadura
Da Desgraça, que apura iradas mågoas
Na casa nua do varĂŁo honesto.
Mas Grécia e Roma hå muito que acabaram;
E as cinzas dos HerĂłis fortes e humanos,