Poemas sobre Liberdade de Miguel Torga

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Poemas de liberdade de Miguel Torga. Leia este e outros poemas de Miguel Torga em Poetris.

Portugal

Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que nĂŁo te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusĂŁo,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.

Liberdade

— Liberdade, que estais no cĂ©u…
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silĂŞncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pĂŁo da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Conquista

Livre nĂŁo sou, que nem a prĂłpria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhĂŁo da corrente.

Livre nĂŁo sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenĂşfares de serenidade
Depois de ter a lua!