Devo-te
Devo-te tanto como um pássaro
deve o seu voo Ă lavada
planĂcie do cĂ©u.Devo-te a forma
novĂssima de olhar
teu corpo onde Ă s vezes
desce o pudor o silĂŞncio
de uma pálpebra mais nada.Devo-te o ritmo
de peixe na palavra,
a genesĂaca, doce
violĂŞncia dos sentidos;
esta tinta de sol
sobre o papel de silĂŞncio
das coisas – estes versos
doces, curtos, de abelhas
transportando o pĂłlen
levĂssimo do dia;
estas formigas na sombra
da prĂłpria pressa e entrando
todas em fila no tempo:
com uma pergunta frágil
nas antenas, um recado invisĂvel, o peso
que as deixa ser e esquece;
e a tua voz que compunha
uma casa, uma rosa
a toda a volta – Ăł meu amor vieste
rasgar um sol das minhas mĂŁos!
Poemas sobre MĂŁos de VĂtor Matos e Sá
4 resultadosVem Ver a Minha MĂŁe
Está junto das coisas que bordaram
com ela os dias que supĂ´s mais belos
e são a fonte de onde lhe começa
o branco tempo dos cabelos.Mal pousa a vida nos seus dedos gastos
do sonho que pousou na minha mĂŁo
e no sangue tão frágil que sustenta
tanta ternura e tanta solidĂŁo.
Dá-me as Tuas Mãos
As mĂŁos foram feitas
para trazer o futuro,
encurtar a tristeza, encher
o que fica das mĂŁos
de ontem – intervalos
(duros, fiéis) das palavras,
vocação urgente
da ternura, pensamento
entreaberto até
aos dedos longos
pelas coisas fora
pelos anos dentro.
Veio Tudo de Longe
Veio tudo de longe para ser
uma sĂł coisa, nupcial e magnĂfica.
Caminho e tenda. O mar. Livros. A indizĂvel
matéria da dor. Ternura
cercada e repartida, pouco
a pouco, à mesa rápida
dos lábios, clandestina voz baixa
das mĂŁos juntas. Sobreviventes
de invernos, dĂşvidas, denĂşncias.
E o teu sorriso honrado. A oferta
duplicada e vulcânica
dos seios. Esta noite que nos pĂ´s
Ă prova. Sobre o vento e o repouso
do vento. E a mĂşsica ainda cheia
de muitos outros quartos. Sim, a importância
do teu rosto: alvo claro deste mĂŞs
desmedido que nĂłs somos.Veio tudo de longe para ser
uma só coisa, sagrada e partilhável.O banho comum gradual e abundante
dos sentidos. As faces que sĂł tenho
entre o convĂvio doce dos teus dedos
sempre em férias. E a chave
do desejo. Erecta dureza doadora
do Ăłleo e da viagem
aos lugares da origem
e do ĂŞxtase. Resposta
da terra contra a terra.E a surpresa ensina e desvenda
as partes mais antigas da alegria
dupla,