Devo-te

Devo-te tanto como um pássaro
deve o seu voo Ă  lavada
planície do céu.

Devo-te a forma
novĂ­ssima de olhar
teu corpo onde Ă s vezes
desce o pudor o silĂŞncio
de uma pálpebra mais nada.

Devo-te o ritmo
de peixe na palavra,
a genesĂ­aca, doce
violĂŞncia dos sentidos;
esta tinta de sol
sobre o papel de silĂŞncio
das coisas – estes versos
doces, curtos, de abelhas
transportando o pĂłlen
levĂ­ssimo do dia;
estas formigas na sombra
da prĂłpria pressa e entrando
todas em fila no tempo:
com uma pergunta frágil
nas antenas, um recado invisĂ­vel, o peso
que as deixa ser e esquece;
e a tua voz que compunha
uma casa, uma rosa
a toda a volta – Ăł meu amor vieste
rasgar um sol das minhas mĂŁos!