Poemas sobre Olhar de Almeida Garrett

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Poemas de olhar de Almeida Garrett. Leia este e outros poemas de Almeida Garrett em Poetris.

Não És Tu

Era assim, tinha esse olhar,
A mesma graça, o mesmo ar,
Corava da mesma cor,
Aquela visĂŁo que eu vi
Quando eu sonhava de amor,
Quando em sonhos me perdi.

Toda assim; o porte altivo,
O semblante pensativo,
E uma suave tristeza
Que por toda ela descia
Como um véu que lhe envolvia,
Que lhe adoçava a beleza.

Era assim; o seu falar,
Ingénuo e quase vulgar,
Tinha o poder da razĂŁo
Que penetra, nĂŁo seduz;
NĂŁo era fogo, era luz
Que mandava ao coração.

Nos olhos tinha esse lume,
No seio o mesmo perfume ,
Um cheiro a rosas celestes,
Rosas brancas, puras, finas,
Viçosas como boninas,
Singelas sem ser agrestes.

Mas nĂŁo Ă©s tu… ai!, nĂŁo Ă©s:
Toda a ilusĂŁo se desfez.
Não és aquela que eu vi,
Não és a mesma visão,
Que essa tinha coração,
Tinha, que eu bem lho senti.

Rosa PĂĄlida

Rosa pĂĄlida, em meu seio
Vem, querida, sem receio
Esconder a aflita cor.
Ai!, a minha pobre rosa!
Cuida que Ă© menos formosa
Porque desbotou de amor.

Pois sim… quando livre, ao vento,
Solta de alma e pensamento,
Forte de tua isenção,
Tinhas na folha incendida
O sangue, o calor e a vida
Que ora tens no coração.

Mas nĂŁo eras, nĂŁo, mais bela,
Coitada, coitada dela,
A minha rosa gentil!
Coravam-na entĂŁo desejos,
Desmaiam-na agora os beijos…
Vales mais mil vezes, mil.

Inveja das outras flores!
Inveja de quĂȘ, amores?
Tu, que vieste dos Céus,
Comparar tua beleza
Às filhas da natureza!
Rosa, nĂŁo tentes a Deus.

E vergonha!… de quĂȘ, vida?
Vergonha de ser querida,
Vergonha de ser feliz!
PorquĂȘ?… porquĂȘ em teu semblante
A pĂĄlida cor da amante
A minha ventura diz?

Pois, quando eras tĂŁo vermelha
NĂŁo vinha zĂąngĂŁo e abelha
Em torno de ti zumbir?
NĂŁo ouvias entre as flores
HistĂłrias dos mil amores
Que nĂŁo tinhas,

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Estes SĂ­tios!

Olha bem estes sĂ­tios queridos,
VĂȘ-os bem neste olhar derradeiro…
Ai! o negro dos montes erguidos,
Ai! o verde do triste pinheiro!
Que saudade que deles teremos…
Que saudade! ai, amor, que saudade!
Pois nĂŁo sentes, neste ar que bebemos,
No acre cheiro da agreste ramagem,
Estar-se alma a tragar liberdade
E a crescer de inocĂȘncia e vigor!
Oh! aqui, aqui sĂł se engrinalda
Da pureza da rosa selvagem,
E contente aqui sĂł vive Amor.
O ar queimado das salas lhe escalda
De suas asas o nĂ­veo candor,
E na frente arrugada lhe cresta
A inocĂȘncia infantil do pudor.
E oh! deixar tais delĂ­cias como esta!
E trocar este céu de ventura
Pelo inferno da escrava cidade!
Vender alma e razĂŁo Ă  impostura,
Ir saudar a mentira em sua corte,
Ajoelhar em seu trono Ă  vaidade,
Ter de rir nas angĂșstias da morte,
Chamar vida ao terror da verdade…
Ai! nĂŁo, nĂŁo… nossa vida acabou,
Nossa vida aqui toda ficou
Diz-lhe adeus neste olhar derradeiro,
Dize Ă  sombra dos montes erguidos,
Dize-o ao verde do triste pinheiro,

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