Poemas sobre Oportunidades de Álvaro de Campos

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Poemas de oportunidades de Álvaro de Campos. Leia este e outros poemas de Álvaro de Campos em Poetris.

É InĂștil Tudo

Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.

É inĂștil dizer-me que as açÔes tĂȘm conseqĂŒĂȘncias.
É inĂștil eu saber que as açÔes usam conseqĂŒĂȘncias.
É inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo.

Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma.

Tinha agora vontade
De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado,
De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo.

NĂŁo vem com a tarde oportunidade nenhuma.

Na Véspera de não Partir Nunca

Na véspera de não partir nunca
Ao menos nĂŁo hĂĄ que arrumar malas
Nem que fazer planos em papel,
Com acompanhamento involuntĂĄrio de esquecimentos,
Para o partir ainda livre do dia seguinte.
NĂŁo hĂĄ que fazer nada
Na véspera de não partir nunca.
Grande sossego de jĂĄ nĂŁo haver sequer de que ter sossego!
Grande tranqĂŒilidade a que nem sabe encolher ombros
Por isto tudo, ter pensado o tudo
É o ter chegado deliberadamente a nada.
Grande alegria de nĂŁo ter precisĂŁo de ser alegre,
Como uma oportunidade virada do avesso.
HĂĄ quantas vezes vivo
A vida vegetativa do pensamento!
Todos os dias sine linea
Sossego, sim, sossego…
Grande tranqĂŒilidade…
Que repouso, depois de tantas viagens, fĂ­sicas e psĂ­quicas!
Que prazer olhar para as malas fĂ­tando como para nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
Dormita!
É pouco o tempo que tens! Dormita!
É a vĂ©spera de nĂŁo partir nunca!