Poemas sobre PĂ©s de Ricardo Reis

4 resultados
Poemas de pés de Ricardo Reis. Leia este e outros poemas de Ricardo Reis em Poetris.

Da Nossa Semelhança com os Deuses

Da nossa semelhança com os deuses
Por nosso bem tiremos
Julgarmo-nos deidades exiladas
E possuindo a Vida
Por uma autoridade primitiva
E coeva de Jove.

Altivamente donos de nĂłs-mesmos,
Usemos a existĂŞncia
Como a vila que os deuses nos concedem
Para, esquecer o estio.
NĂŁo de outra forma mais apoquentada
Nos vale o esforço usarmos
A existĂŞncia indecisa e afluente
Fatal do rio escuro.

Como acima dos deuses o Destino
É calmo e inexorável,
Acima de nĂłs-mesmos construamos
Um fado voluntário
Que quando nos oprima nĂłs sejamos
Esse que nos oprime,
E quando entremos pela noite dentro
Por nosso pé entremos

Vem Sentar-te Comigo, LĂ­dia, Ă  Beira do Rio

Vem sentar-te comigo, LĂ­dia, Ă  beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mĂŁos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nĂŁo fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mĂŁos, porque nĂŁo vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nĂŁo gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dĂŁo movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente nĂŁo cremos em nada,

Continue lendo…

O Ritmo Antigo que Há em Pés Descalços

O ritmo antigo que há em pés descalços,
Esse ritmo das ninfas repetido,
Quando sob o arvoredo
Batem o som da dança,
VĂłs na alva praia relembrai, fazendo,
Que ‘scura a ‘spuma deixa; vĂłs, infantes,
Que inda nĂŁo tendes cura
De ter cura, responde
Ruidosa a roda, enquanto arqueia Apolo
Como um ramo alto, a curva azul que doura,
E a perene maré
Flui, enchente ou vazante.

Mortos, Ainda Morremos

O rastro breve que das ervas moles
Ergue o pé findo, o eco que oco coa,
A sombra que se adumbra,
O branco que a nau larga —

Nem maior nem melhor deixa a alma Ă s almas,
O ido aos indos. A lembrança esquece,
Mortos, inda morremos.
LĂ­dia, somos sĂł nossos.