Poemas sobre Princesas de Mário de Sá-Carneiro

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Poemas de princesas de Mário de Sá-Carneiro. Leia este e outros poemas de Mário de Sá-Carneiro em Poetris.

Inter-Sonho

Numa incerta melodia
TĂ´da a minh’alma se esconde
Reminiscencias de Aonde
Perturbam-me em nostalgia…

ManhĂŁ d’armas! ManhĂŁ d’armas!
Romaria! Romaria!

. . . . . . . . . . . . . . .

Tacteio… dobro… resvalo…

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Princesas de fantasia
Desencantam-se das flores…

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Que pesadĂŞlo tĂŁo bom…

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Pressinto um grande intervalo,
Deliro todas as cĂ´res,
Vivo em roxo e morro em som…

Angulo

Aonde irei neste sem-fim perdido,
Neste mar Ă´co de certezas mortas? –
Fingidas, afinal, todas as portas
Que no dique julguei ter construido…

– Barcaças dos meus impetos tigrados,
Que oceano vos dormiram de SegrĂŞdo?
Partiste-vos, transportes encantados,
De embate, em alma ao rĂ´xo, a que rochĂŞdo?…

– Ă“ nau de festa, Ăł ruiva de aventura
Onde, em Champanhe, a minha ânsia ia,
Quebraste-vos também ou, por ventura,
Fundeaste a Ouro em portos d’alquimia?…

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Chegaram à baía os galeões
Com as sete Princesas que morreram.
Regatas de luar nĂŁo se correram…
As bandeiras velaram-se, orações…

Detive-me na ponte, debruçado,
Mas a ponte era falsa – e derradeira.
Segui no cais. O cais era abaulado,
Cais fingido sem mar á sua beira…

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Distante Melodia

Num sonho d’Iris, morto a ouro e brasa,
Vem-me lembranças doutro Tempo azul
Que me oscilava entre vĂ©us de tule –
Um tempo esguio e leve, um tempo-Asa.

EntĂŁo os meus sentidos eram cĂ´res,
Nasciam num jardim as minhas ansias,
Havia na minh’alma Outras distancias –
Distancias que o segui-las era flĂ´res…

CaĂ­a Ouro se pensava Estrelas,
O luar batia sobre o meu alhear-me…
Noites-lagĂ´as, como Ă©reis belas
Sob terraços-liz de recordar-me!…

Idade acorde d’Inter sonho e Lua,
Onde as horas corriam sempre jade,
Onde a neblina era uma saudade,
E a luz – anseios de Princesa nua…

BalaĂşstres de som, arcos de Amar,
Pontes de brilho, ogivas de perfume…
Dominio inexprimivel d’Ă“pio e lume
Que nunca mais, em cĂ´r, hei de habitar…

TapĂŞtes doutras Persias mais Oriente…
Cortinados de Chinas mais marfim…
Aureos Templos de ritos de setim…
Fontes correndo sombra, mansamente…

ZimbĂłrios-panthĂ©ons de nostalgias…
Catedrais de ser-Eu por sobre o mar…
Escadas de honra, escadas sĂł, ao ar…
Novas Byzancios-alma, outras Turquias…

Lembranças fluidas…

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Taciturno

Há Ouro marchetado em mim, a pedras raras,
Ouro sinistro em sons de bronzes medievais –
Joia profunda a minha Alma a luzes caras,
CibĂłrio triangular de ritos infernais.

No meu mundo interior cerraram-se armaduras,
Capacetes de ferro esmagaram Princesas.
Toda uma estirpe rial de herois d’Outras bravuras
Em mim se despojou dos seus brazões e presas.

Heraldicas-luar sobre Ă­mpetos de rubro,
Humilhações a liz, desforços de brocado;
Bazilicas de tédio, arnezes de crispado,
Insignias de IlusĂŁo, trofĂ©us de jaspe e Outubro…

A ponte levadiça e baça de Eu-ter-sido
Enferrujou – embalde a tentarĂŁo descer…
Sobre fossos de Vago, ameias de inda-querer –
ManhĂŁs de armas ainda em arraiais de olvido…

Percorro-me em salões sem janelas nem portas,
Longas salas de trĂ´no a espessas densidades,
Onde os pânos de Arrás são esgarçadas saudades,
E os divans, em redĂłr, ansias lassas, absortas…

Ha rĂ´xos fins de Imperio em meu renunciar –
Caprichos de setim do meu desdem Astral…
Ha exĂ©quias de herois na minha dĂ´r feudal –
E os meus remorsos sĂŁo terraços sobre o Mar…

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