A Melhor Maneira de Viajar Ă© Sentir
Afinal, a melhor maneira de viajar Ă© sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas sĂŁo, em verdade, excessivas
E toda a realidade Ă© um excesso, uma violĂȘncia,
Uma alucinação extraordinariamente nĂtida
Que vivemos todos em comum com a fĂșria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrĂfugas
Que sĂŁo as psiques humanas no seu acordo de sentidos.Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como vĂĄrias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existĂȘncia total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais anĂĄlogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que Ă© Tudo,
E fora d’Ele hĂĄ sĂł Ele, e Tudo para Ele Ă© pouco.Cada alma Ă© uma escada para Deus,
Cada alma Ă© um corredor-Universo para Deus,
Cada alma Ă© um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.
Poemas sobre SatĂ©lites de Ălvaro de Campos
3 resultadosTabacaria
NĂŁo sou nada.
Nunca serei nada.
NĂŁo posso querer ser nada.
Ă parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhÔes do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem Ă©, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessĂvel a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pĂŽr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lĂșcido, como se estivesse para morrer,
E nĂŁo tivesse mais irmandade com as coisas
SenĂŁo uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Se te Queres Matar
Se te queres matar, por que nĂŁo te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, tambĂ©m me mataria…
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convençÔes e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fĂm?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente…
Talvez, acabando, comeces…
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E nĂŁo cantes, como eu, a vida por bebedeira,
NĂŁo saĂșdes como eu a morte em literatura!Fazes falta? Ă sombra fĂștil chamada gente!
NinguĂ©m faz falta; nĂŁo fazes falta a ninguĂ©m…
Sem ti correrĂĄ tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te…
Talvez peses mais durando, que deixando de durar…A mĂĄgoa dos outros?… Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarĂŁo…
O impulso vital apaga as lĂĄgrimas pouco a pouco,