Poemas sobre Senhores de Hilda Hilst

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Poemas de senhores de Hilda Hilst. Leia este e outros poemas de Hilda Hilst em Poetris.

Que este Amor nĂŁo me Cegue

Que este amor nĂŁo me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De sĂł por ele me saber estar sendo.
Que o olhar nĂŁo se perca nas tulipas
Pois formas tĂŁo perfeitas de beleza
VĂŞm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como sĂł soem ser aranhas e formigas.

Que este amor sĂł me veja de partida.

Ama-me

Aos amantes Ă© lĂ­cito a voz desvanecida.
Quando acordares, um sĂł murmĂşrio sobre o teu ouvido:
Ama-me. Alguém dentro de mim dirá: não é tempo, senhora,
Recolhe tuas papoulas, teus narcisos. NĂŁo vĂŞs
Que sobre o muro dos mortos a garganta do mundo
Ronda escurecida?

NĂŁo Ă© tempo, senhora. Ave, moinho e vento
Num vĂłrtice de sombra. Podes cantar de amor
Quando tudo anoitece? Antes lamenta
Essa teia de seda que a garganta tece.

Ama-me. Desvaneço e suplico. Aos amantes é lícito
Vertigens e pedidos. E Ă© tĂŁo grande a minha fome
TĂŁo intenso meu canto, tĂŁo flamante meu preclaro tecido
Que o mundo inteiro, amor, há de cantar comigo.

A Vida Ă© LĂ­quida

É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mĂłrula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livro da lĂ­ngua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha pĂşmblea, me casaco rosso
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, gĂłticas, altas de corpo e copos.
A vida Ă© crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A vida é liquída.

Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos Ă  mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d’água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraĂ­so. O sinistro das horas
Vai se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.

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