Ode ao Gato
Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silĂȘncio branco da cinza,
pois nĂłs temos fĂŽlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva Ă glĂłria ou Ă morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.
Poemas sobre SilĂȘncio de JosĂ© Jorge Letria
2 resultadosUm Pouco Mais de NĂłs
Podes dar uma centelha de lua,
um colar de pétalas breves
ou um farrapo de nuvem;
podes dar mais uma asa
a quem tem sede de voar
ou apenas o tesouro sem preço
do teu tempo em qualquer lugar;
podes dar o que és e o que sentes
sem que te perguntem
nome, sexo ou endereço;
podes dar em suma, com emoção,
tudo aquilo que, em silĂȘncio,
te segreda o coração;
podes dar a rima sem rima
de uma mĂșsica sĂł tua
a quem sofre a miséria dos dias
na noite sem tecto de uma rua;
podes juntar o diamante da dĂĄdiva
ao hĂșmus de uma crença forte e antiga,
sob a forma de poema ou de cantiga;
podes ser o livro, o sonho, o ponteiro
do relĂłgio da vida sem atraso,
e sendo tudo isso serĂĄs ainda mais,
anĂłnimo, pleno e livre,
nau sempre aparelhada para deixar o cais,
porque o que conta, vendo bem,
Ă© dar sempre um pouco mais,
sem factura, sem fama, sem horĂĄrio,
que a mĂĄxima recompensa de quem dĂĄ
Ă© o jĂșbilo de um gesto voluntĂĄrio.