Poemas sobre Velhos de CecĂ­lia Meireles

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O Tempo Seca o Amor

O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestĂ­gio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
nĂŁo na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.

A Velhice Pede Desculpas

Tão velho estou como árvore no inverno,
vulcão sufocado, pássaro sonolento.
Tão velho estou, de pálpebras baixas,
acostumado apenas ao som das mĂşsicas,
Ă  forma das letras.

Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético
dos provisĂłrios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando
e uma voz que nĂŁo me canso, muito longe, de ouvir.

Desculpai-me esta face, que se fez resignada:
já não é a minha, mas a do tempo,
com seus muitos episĂłdios.

Desculpai-me nĂŁo ser bem eu:
mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, Ă© certo,
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.

Desculpai-me viver ainda:
que os destroços, mesmo os da maior glória,
são na verdade só destroços, destroços.