Mensagem – Mar PortuguĂŞs
MAR PORTUGUĂŠS
Possessio Maris
I. O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.Quem te sagrou criou-te portuguĂŞs.
Do mar e nĂłs em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!II. Horizonte
Ă“ mar anterior a nĂłs, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
’Splendia sobre as naus da iniciação.Linha severa da longĂnqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves,
Poemas sobre Vultos de Fernando Pessoa
3 resultadosAtravessa Esta Paisagem o Meu Sonho
Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores Ă© transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas…O porto que sonho Ă© sombrio e pálido
E esta paisagem Ă© cheia de sol deste lado…
Mas no meu espĂrito o sol deste dia Ă© porto sombrio
E os navios que saem do porto sĂŁo estas árvores ao sol…Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo…
O vulto do cais Ă© a estrada nĂtida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro…NĂŁo sei quem me sonho…
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse
desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele
porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim,
Elas SĂŁo Vaporosas
Elas sĂŁo vaporosas,
Pálidas sombras, as rosas
Nadas da hora lunar…VĂŞm, aĂ©reas, dançar
Com perfumes soltos
Entre os canteiros e os buxos…
Chora no som dos repuxos
O ritmo que há nos seus vultos…Passam e agitam a brisa…
Pálida, a pompa indecisa
Da sua flébil demora
Paira em aurĂ©ola Ă hora…Passam nos ritmos da sombra…
Ora Ă© uma folha que tomba,
Ora uma brisa que treme
Sua leveza solene…E assim vĂŁo indo, delindo
Seu perfil Ăşnico e lindo,
Seu vulto feito de todas,
Nas alamedas, em rodas,
No jardim lĂvido e frio…Passam sozinhas, a fio,
Como um fumo indo, a rarear,
Pelo ar longĂnquo e vazio,
Sob o, disperso pelo ar,
Pálido pálio lunar …