Sonetos sobre Alma de Augusto dos Anjos

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Sonetos de alma de Augusto dos Anjos. Leia este e outros sonetos de Augusto dos Anjos em Poetris.

Agonia De Um FilĂłsofo

Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto
Rig-Veda. E, ante obras tais, me nĂŁo consolo…
O Inconsciente me assombra e eu nĂŞle tolo
Com a eĂłlica fĂşria do harmatĂŁ inquieto!

Assisto agora Ă  morte de um inseto!…
Ah! todos os fenĂ´menos do solo
Parecem realizar de pĂłlo a pĂłlo
O ideal de Anaximandro de Mileto!

No hierático areopago heterogêneo
Das idéas, percorro como um gênio
Desde a alma de Haeckel Ă  alma cenobial!…

Rasgo dos mundos o velário espesso;
E em tudo, igual a Goethe, reconheço
O império da substância universal!

Abandonada

Ao meu irmĂŁo Odilon dos Anjos

Bem depressa sumiu-se a vaporosa
Nuvem de amores, de ilusões tão bela;
O brilho se apagou daquela estrela
Que a vida lhe tornava venturosa!

Sombras que passam, sombras cor-de-rosa
– Todas se foram num festivo bando,
Fugazes sonhos, gárrulos voando
– Resta somente um’alma tristurosa!

Coitada! o gozo lhe fugiu correndo,
Hoje ela habita a erma soledade,
Em que vive e em que aos poucos vai morrendo!

Seu rosto triste, seu olhar magoado,
Fazem lembrar em noute de saudade
A luz mortiça d’um olhar nublado.

As Montanhas

I

Das nebulosas em que te emaranhas
Levanta-te, alma, e dize-me, afinal,
Qual Ă©, na natureza espiritual,
A significação dessas montanhas!

Quem nĂŁo vĂŞ nas granĂ­ticas entranhas
A subjetividade ascensional
Paralisada e estrangulada, mal
Quis erguer-se a cumĂ­adas tamanhas?!

Ah! Nesse anelo trágico de altura
NĂŁo serĂŁo as montanhas, porventura,
Estacionadas, Ă­ngremes, assim,

Por um abortamento de mecânica,
A representação ainda inorgânica
De tudo aquilo que parou em mim?!

Saudade

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença, em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

Ă€ noute qaundo em funda soledade
Minh’alma se recolhe tristemente,
P’ra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o cĂ­rio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E Ă  dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida Ă  dor e ao sofrimento,

Da saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra o peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida.