Sonetos de Ant贸nio Ferreira

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Sonetos de Ant贸nio Ferreira. Conhe莽a este e outros autores famosos em Poetris.

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(脌 morte da esposa)

脫 alma pura enquanto c谩 vivias,
Alma, l谩 onde vives, j谩 mais pura,
Porque me desprezaste? Quem t茫o dura
Te tornou ao amor que me devias?

Isto era o que mil vezes prometias,
Em que minha alma estava t茫o segura?
Que ambos juntos Da hora desta escura
Noute nos subiria aos claros dias?

Como em t茫o triste c谩rcer’ me deixaste?
Como pude eu sem mi deixar partir-te?
Como vive este corpo sem sua alma?

Ah! que o caminho tu bem mo mostraste,
Porque correste 脿 gloriosa palma!
Triste de quem n茫o mereceu seguir-te!

Os Dias Conto, e cada Hora, e Momento

Os dias conto, e cada hora, e momento
qu’ alongando-me vou dos meus amores.
Nas 谩rvores, nas pedras, ervas, flores,
parece que acho m谩goa, e sentimento.

As aves que no ar voam, o sol, e o vento,
montes, rios, e gados, e pastores,
as estradas, e os campos, mostram as dores
da minha saudade, e apartamento.

E quanto m’era l谩 doce, e suave,
mais triste, e duro Amor c谩 mo apresenta,
a que entreguei da minha vida a chave.

Em l谩grimas for莽a 茅 qu’ as faces lave,
ou que n茫o sinta a dor que na tormenta
mem贸ria da bonan莽a faz mais grave.

Vou de Suspiros Todo este Ar Enchendo

Vou de suspiros todo est’ ar enchendo,
vou a terra de l谩grimas regando,
mais 谩gua aos rios, mais 脿s fontes dando,
e com meu fogo em tudo fogo acendo.

E quando os olhos meus, senhora, estendo
para onde o Amor e v贸s m’estais chamando,
as altas serras em qu’ os vou quebrando
da vista me tolher s’ est茫o doendo.

Mas nisto acode Amor, que sempre voa;
eu pelas asas, eu pelo arco o tenho,
t茅 me levar consigo onde desejo.

E jurarei, senhora, que vos vejo,
jurarei qu’ essa doce voz me soa.
Nesta imagina莽茫o s贸 me sostenho.

Aquele Claro Sol

Aquele claro sol, que me mostrava
o caminho do c茅u mais ch茫o, mais certo,
e com seu novo raio, ao longe, e ao perto,
toda a sombra mortal m’afugentava,

deixou a pris茫o triste, em que c谩 estava.
Eu fiquei cego, e s贸, c’o passo incerto,
perdido peregrino no deserto
a que faltou a guia que o levava.

Assi c’o esprito triste, o ju铆zo escuro,
suas santas pisadas vou buscando
por vales, e por campos, e por montes.

Em toda parte a vejo, e a figuro.
Ela me toma a m茫o e vai guiando,
e meus olhos a seguem, feitos fontes.

Dos Mais Fermosos Olhos

Dos mais fermosos olhos, mais fermoso
Rosto, que entre n贸s h谩, do mais divino
Lume, mais branca neve, ouro mais fino,
Mais doce fala, riso mais gracioso:

Dum Ang茅lico ar, de um amoroso
Meneio, de um esprito peregrino
Se acendeu em mim o fogo, de que indigno
Me sinto, e tanto mais assi ditoso.

N茫o cabe em mim tal bem-aventuran莽a.
脡 pouco uma alma s贸, pouco uma vida,
Quem tivesse que dar mais a tal fogo!

Contente a alma dos olhos 谩gua lan莽a
Pelo em si mais deter, mas 茅 vencida
Do doce ardor, que n茫o obedece a rogo.

5

Se meu desejo s贸 茅 sempre ver-vos,
Que causar谩, senhora, que em vos vendo
Assi me encolho logo, e arrependo,
Que folgaria ent茫o poder esquecer-vos?

Se minha gl贸ria s贸 茅 sempre ter-vos
No pensamento meu, porque em querendo
Cuidar em v贸s, se vai entristecendo?
Nem ousa meu esprito em si deter-vos?

Se por v贸s s贸 a vida estimo, e quero,
Como por v贸s a morte s贸 desejo?
Quem achar谩 em tais contr谩rios meio?

N茫o sei entender o que em mim mesmo vejo.
Mas que tudo 茅 amor, entendo, e creio,
E no que entendo, e creio, nisso espero.

Erra a Minha Alma, em Contemplar-vos Tanto

S’erra minh’alma, em contemplar-vos tanto,
E estes meus olhos tristes, em vos ver,
S’erra meu amor grande, em n茫o querer
Crer que outra cousa h谩 ai de mor espanto,

S’erra meu esp铆rito, em levantar seu canto
Em v贸s, e em vosso nome s贸 escrever,
S’erra minha vida, em assim viver
Por v贸s continuamente em dor, e pranto,

S’erra minha esperan莽a, em se enganar
J谩 tantas vezes, e assim enganada
Tornar-se a seus enganos conhecidos,

S’erra meu bom desejo, em confiar
Que algu’hora ser茫o meus males cridos,
V贸s em meus erros s贸 sereis culpada.

Vosso Nome de Amor

Quando entoar come莽o com voz branda
Vosso nome de amor, doce, e suave,
A terra, o mar, vento, 谩gua, flor, folha, ave
Ao brando som se alegra, move, e abranda.

Nem nuvem cobre o c茅u, nem na gente anda
Trabalhoso cuidado, ou peso grave,
Nova cor toma o Sul, ou se erga, ou lave
No claro Tejo, e nova luz nos manda.

Tudo se ri, se alegra, e reverdece.
Todo mundo parece que renova.
Nem h谩 triste planeta, ou dura sorte.

A minh’alma s贸 chora, e se entristece,
Maravilha de Amor cruel, e nova!
O que a todos traz vida, a mim traz morte.

1

Livro, se luz desejas, mal te enganas.
Quanto melhor ser谩 dentro em teu muro
Quieto, e humilde estar, inda que escuro,
Onde ningu茅m t’impece, a ningu茅m danas!

Sujeitas sempre ao tempo obras humanas
Coa novidade aprazem; logo em duro
脫dio e desprezo ficam: ama o seguro
Sil锚ncio, fuge o povo, e m茫os profanas.

Ah! n茫o te posso ter! deixa ir comprindo
Primeiro tua idade; quem te move
Te defenda do tempo, e de seus danos.

Dir谩s que a pesar meu fostes fugindo,
Reinando Sebasti茫o, Rei de quatro anos:
Ano cinquenta e sete: eu vinte e nove.