LXXVI
Enfim te hei de deixar, doce corrente
Do claro, do suavĂssimo Mondego;
Hei de deixar-te enfim; e um novo pego
Formará de meu pranto a cópia ardente.De ti me apartarei; mas bem que ausente,
Desta lira serás eterno emprego;
E quanto influxo hoje a dever-te chego,
Pagará de meu peito a voz cadente.Das ninfas, que na fresca, amena estância
Das tuas margens Ăşmidas ouvia,
Eu terei sempre n’alma a consonância;Desde o prazo funesto deste dia
Serão fiscais eternos da minha ânsia
As memĂłrias da tua companhia.
Sonetos sobre Ausentes de Cláudio Manuel da Costa
2 resultados Sonetos de ausentes de Cláudio Manuel da Costa. Leia este e outros sonetos de Cláudio Manuel da Costa em Poetris.
XL
Quem chora ausente aquela formosura,
Em que seu maior gosto deposita,
Que bem pode gozar, que sorte, ou dita,
Que nĂŁo seja funesta, triste, e escura!A apagar os incĂŞndios da loucura
Nos braços da esperança Amor me incita:
Mas se era a que perdi, glĂłria infinita,
Outra igual que esperança me assegura!Já de tanto delĂrio me despeço;
Porque o meu precipĂcio encaminhado
Pela mão deste engano reconheço.Triste! A quanto chegou meu duro fado!
Se de um fingido bem não faço apreço,
Que alĂvio posso dar a meu cuidado!