Sonetos sobre Bem de William Shakespeare

5 resultados
Sonetos de bem de William Shakespeare. Leia este e outros sonetos de William Shakespeare em Poetris.

Se Nada HĂĄ de Novo

Se nada hĂĄ de novo e tudo o que hĂĄ
jĂĄ dantes era como agora Ă©,
só ilusão a criação serå:
criar o jĂĄ criado para quĂȘ?

Que alguém me mostre, sobre um livro antigo
como quinhentas translaçÔes astrais,
a tua imagem, na inscrição, no abrigo
do espĂ­rito em seus signos iniciais.

Que eu saiba o que diria o velho mundo
deste milagre que Ă© a tua forma;
se te viram melhor, se me confundo,

se as translaçÔes seguem a mesma norma.
Mas disto estou seguro: antigos textos
louvaram mais com bem menores pretextos.

Tradução de Carlos de Oliveira

És MĂșsica e a MĂșsica Ouves Triste?

És mĂșsica e a mĂșsica ouves triste?
Doçura atrai doçura e alegria:
porque amas o que a teu prazer resiste,
ou tens prazer sĂł na melancolia?

se a concĂłrdia dos sons bem afinados,
por casados, ofende o teu ouvido,
sĂŁo-te branda censura, em ti calcados,
porque de ti deviam ter nascido.

VĂȘ que uma corda a outra casa bem
e ambas se fazem mĂștuo ordenamento,
como marido e filho e feliz mĂŁe

que, todos num, cantam de encantamento:
É canção sem palavras, vária e em
unĂ­ssono: “sĂł nĂŁo serĂĄs ninguĂ©m”.

À Morte Peço a Paz Farto de Tudo

À morte peço a paz farto de tudo,
de ver talento a mendigar o pĂŁo,
e o oco abonitado e farfalhudo,
e a pura fé rasgada na traição,

e galas de ouro es despejados bustos,
e a virgindade Ă  bruta rebentada,
e em justa perfeição tratos injustos,
e o valor da inépcia valer nada,

e autoridade na arte pÎr mordaça,
e pedantes a engenho dando lei,
e a verdade por lorpa como passa,

e no cativo bem o mal ser rei.
Farto disto, nĂŁo deixo o meu caminho,
pois se eu morrer, Ă© o meu amor sozinho.

Meus Olhos VĂȘem Melhor se os Vou Fechando

Meus olhos vĂȘem melhor se os vou fechando.
Viram coisas de dia e foi em vĂŁo,
mas quando durmo, em sonhos te fitando,
sĂŁo escura luz que luz na escuridĂŁo.

Tu cuja sombra faz a sombra clara,
como em forma de sombras assombravas
ledo o claro dia em luz mais rara,
se em sombra a olhos sem visĂŁo brilhavas!

Que benção a meus olhos fora feita
vendo-te Ă  viva luz do dia bem,
se a tua sombra em trevas imperfeita

a olhos sem visĂŁo no sono vem!
Vejo os dias quais noites nĂŁo te vendo,
e as noites dias claros sonhos tendo.

Ah, que Olhos PĂŽs Amor na Minha Cara

Ah, que olhos pĂŽs Amor na minha cara
mas sem correspondĂȘncia a fiel vista?
Ou se a tĂȘm, meu juĂ­zo onde Ă© que pĂĄra
que em tĂŁo falsas censuras inda insista?

Se Ă© belo o que meus olhos falso adoram
que quer dizer o mundo em negação?
E se nĂŁo Ă©, amor mostra se goram
seus olhos, menos fiéis que os homens: não,

como pode? Como pode, se pranto
e espera o afectam, ser fiel no olhar?
De erros da minha vista nĂŁo me espanto,

o sol nĂŁo vĂȘ atĂ© o cĂ©u limpar.
Manhoso amor, com choros pÔes-me cego,
mas vendo bem, a tuas faltas chego.