Sonetos sobre Busca de Luís de Camões

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Tomou-me Vossa Vista Soberana

Tomou-me vossa vista soberana
Aonde tinha as armas mais Ă  mĂŁo,
Por mostrar a quem busca defensĂŁo
Contra esses belos olhos, que se engana.

Por ficar da vitĂłria mais ufana,
Deixou-me armar primeiro da razĂŁo;
Bem salvar-me cuidei, mas foi em vĂŁo,
Que contra o Céu não vale defensa humana.

Contudo, se vos tinha prometido
O vosso alto destino esta vitĂłria,
Ser-vos ela bem pouco está entendido.

Pois, inda que eu me achasse apercebido,
NĂŁo levais de vencer-me grande glĂłria,
Eu a levo maior de ser vencido.

Transforma-se o Amador na Cousa Amada

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
NĂŁo tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que como o acidente em seu sujeito,
Assim co’a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.

Por Sua Ninfa, Céfalo Deixava

Por sua Ninfa, Céfalo deixava
Aurora, que por ele se perdia,
posto que dá princípio ao claro dia,
posto que as roxas flores imitava.

Ele, que a bela PrĂłcris tanto amava
que sĂł por ela tudo enjeitaria,
deseja de atentar se lhe acharia
tão firme fé como nele achava.

Mudado o trajo, tece o duro engano:
outro se finge, preço põe diante,
quebra se a fé mudável, e consente.

Ă“ engenho sutil para seu dano!
Vede que manhas busca um cego amante
para que sempre seja descontente!

O tempo acaba o ano, o mĂŞs e a hora

O tempo acaba o ano, o mĂŞs e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;

O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidĂŁo, qualquer dureza;
Mas nĂŁo pode acabar minha tristeza,
Enquanto nĂŁo quiserdes vĂłs, Senhora.

O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.

Tomou-me vossa vista soberana

Tomou-me vossa vista soberana
Aonde tinha as armas mais Ă  mĂŁo,
Por mostrar que quem busca defensĂŁo
Contra esses belos olhos, que se engana.

Por ficar da vitĂłria mais ufana,
Deixou-me armar primeiro da razĂŁo;
Cuidei de me salvar, mas foi em vĂŁo,
Que contra o Céu não vale defensa humana.

Mas porém, se vos tinha prometido
O vosso alto destino esta vitĂłria,
Ser-vos tudo bem pouco está sabido.

Que posto que estivesse apercebido,
NĂŁo levais de vencer-me grande glĂłria;
Maior a levo eu de ser vencido.