Sonetos sobre Canto de Luís de CamÔes

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Sonetos de canto de Luís de CamÔes. Leia este e outros sonetos de Luís de CamÔes em Poetris.

Eu Cantei JĂĄ, E Agora Vou Chorando

Eu cantei jĂĄ, e agora vou chorando
o tempo que cantei tĂŁo confiado;
parece que no canto jĂĄ passado
se estavam minhas lĂĄgrimas criando.

Cantei; mas se me alguém pergunta: -Quando?
-Não sei; que também fui nisso enganado.
É tão triste este meu presente estado
que o passado, por ledo, estou julgando.

Fizeram-me cantar, manhosamente,
contentamentos não, mas confianças;
cantava, mas jĂĄ era ao som dos ferros.

De quem me queixarei, que tudo mente?
Mas eu que culpa ponho às esperanças
onde a Fortuna injusta Ă© mais que os erros?

Cara Minha Inimiga, Em Cuja MĂŁo

Cara minha inimiga, em cuja mĂŁo
pĂŽs meus contentamentos a ventura,
faltou te a ti na terra sepultura,
porque me falte a mim consolação.

Eternamente as ĂĄguas lograrĂŁo
a tua peregrina fermosura;
mas, enquanto me a mim a vida dura,
sempre viva em minh’alma te acharĂŁo.

E se meus rudos versos podem tanto
que possam prometer te longa histĂłria
daquele amor tĂŁo puro e verdadeiro,

celebrada serĂĄs sempre em meu canto;
porque enquanto no mundo houver memĂłria,
serĂĄ minha escritura teu letreiro.

Cara Minha Inimiga

Cara minha inimiga, em cuja mĂŁo
PĂŽs meus contentamentos a ventura,
Faltou-te a ti na terra sepultura,
Por que me falte a mim consolação.

Eternamente as ĂĄguas lograrĂŁo
A tua peregrina formosura:
Mas enquanto me a mim a vida dura,
Sempre viva em minha alma te acharĂŁo.

E, se meus rudos versos podem tanto,
Que possam prometer-te longa histĂłria
Daquele amor tĂŁo puro e verdadeiro,

Celebrada serĂĄs sempre em meu canto:
Porque, enquanto no mundo houver memĂłria,
SerĂĄ a minha escritura o teu letreiro.

Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mågoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chĂŁo de verde manto,
Que jĂĄ coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que nĂŁo se muda jĂĄ como soĂ­a.

O cisne, quando sente ser chegada

O cisne, quando sente ser chegada
A hora que pÔe termo a sua vida,
MĂșsica com voz alta e mui subida
Levanta pela praia inabitada.

Deseja ter a vida prolongada
Chorando do viver a despedida;
Com grande saudade da partida,
Celebra o triste fim desta jornada.

Assim, Senhora minha, quando via
O triste fim que davam meus amores,
Estando posto jĂĄ no extremo fio,

Com mais suave canto e harmonia
Descantei pelos vossos desfavores
La vuestra falsa fé y el amor mio.

Em Flor Vos Arrancou, De EntĂŁo Crecida

Em flor vos arrancou, de entĂŁo crescida
(Ah! senhor dom AntĂłnio!), a dura sorte,
donde fazendo andava o braço forte
a fama dos Antigos esquecida.

ĂŒa sĂł razĂŁo tenho conhecida
com que tamanha mĂĄgoa se conforte:
que, pois no mundo havia honrada morte,
que nĂŁo podĂ­eis ter mais larga a vida.

Se meus humildes versos podem tanto
que co desejo meu se iguale a arte,
especial matéria me sereis.

E, celebrado em triste e longo canto,
se morrestes nas mĂŁos do fero Marte,
na memĂłria das gentes vivereis.

Cantando Estava Um Dia Bem Seguro Quando

Cantando estava um dia bem seguro quando,
passando, SĂ­lvio me dizia
(SĂ­lvio, pastor antigo, que sabia
pelo canto das aves o futuro):

-MĂ©ris, quando quiser o fado escuro,
oprimir-te virĂŁo em um sĂł dia
dous lobos; logo a voz e a melodia
te fugirĂŁo, e o som suave e puro.

Bem foi assi: porque um me degolou
quanto gado vacum pastava e tinha,
de que grandes soldadas esperava;

E outro por meu dano me matou
a cordeira gentil que eu tanto amava,
perpétua saudade da alma minha!