Sonetos sobre História de Luís de Camões

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Amor um Mal que Falta quando Cresce

Aquela fera humana que enriquece
A sua presunçosa tirania
Destas minhas entranhas, onde cria
Amor um mal que falta quando cresce;

Se nela o CĂ©u mostrou (como parece)
Quanto mostrar ao mundo pretendia,
Porque de minha vida se injuria?
Porque de minha morte se enobrece?

Ora, enfim, sublimai vossa vitĂłria,
Senhora, com vencer-me e cativar-me;
Fazei dela no mundo larga histĂłria.

Pois, por mais que vos veja atormentar-me,
Já me fico logrando desta glória
De ver que tendes tanta de matar-me.

Cara Minha Inimiga, Em Cuja MĂŁo

Cara minha inimiga, em cuja mĂŁo
pĂ´s meus contentamentos a ventura,
faltou te a ti na terra sepultura,
porque me falte a mim consolação.

Eternamente as águas lograrão
a tua peregrina fermosura;
mas, enquanto me a mim a vida dura,
sempre viva em minh’alma te acharĂŁo.

E se meus rudos versos podem tanto
que possam prometer te longa histĂłria
daquele amor tĂŁo puro e verdadeiro,

celebrada serás sempre em meu canto;
porque enquanto no mundo houver memĂłria,
será minha escritura teu letreiro.

Cara Minha Inimiga

Cara minha inimiga, em cuja mĂŁo
PĂ´s meus contentamentos a ventura,
Faltou-te a ti na terra sepultura,
Por que me falte a mim consolação.

Eternamente as águas lograrão
A tua peregrina formosura:
Mas enquanto me a mim a vida dura,
Sempre viva em minha alma te acharĂŁo.

E, se meus rudos versos podem tanto,
Que possam prometer-te longa histĂłria
Daquele amor tĂŁo puro e verdadeiro,

Celebrada serás sempre em meu canto:
Porque, enquanto no mundo houver memĂłria,
Será a minha escritura o teu letreiro.

Na Ribeira Do Eufrates Assentado

Na ribeira do Eufrates assentado,
discorrendo me achei pela memĂłria
aquele breve bem, aquela glĂłria,
que em ti, doce SiĂŁo, tinha passado.

Da causa de meus males perguntado
me foi: Como nĂŁo cantas a histĂłria
de teu passado bem, e da vitĂłria
que sempre de teu mal hás alcançado?

NĂŁo sabes, que a quem canta se lhe esquece
o mal, inda que grave e rigoroso?
Canta, pois, e nĂŁo chores dessa sorte.

Respondo com suspiros: Quando crece
a muita saudade, o piadoso
remédio é não cantar senso a morte.

Os Vestidos Elisa Revolvia

Os vestidos Elisa revolvia
que lh’Eneias deixara por memĂłria:
doces despojos da passada glĂłria,
doces, quando seu Fado o consentia.

Entr’eles a fermosa espada via
que instrumento foi da triste histĂłria;
e, como quem de si tinha a vitĂłria,
falando sĂł com ela, assi dezia:

-Fermosa e nova espada, se ficaste
sĂł para executares os enganos
de quem te quis deixar, em minha vida,

Sabe que tu comigo t’enganaste;
que, para me tirar de tantos danos,
sobeja me a tristeza da partida.

NĂŁo Canse o Cego Amor de me Guiar

Pois meus olhos nĂŁo cansam de chorar
Tristezas nĂŁo cansadas de cansar-me;
Pois nĂŁo se abranda o fogo em que abrasar-me
PĂ´de quem eu jamais pude abrandar;

NĂŁo canse o cego Amor de me guiar
Donde nunca de lá possa tornar-me;
Nem deixe o mundo todo de escutar-me,
Enquanto a fraca voz me nĂŁo deixar.

E se em montes, se em prados, e se em vales
Piedade mora alguma, algum amor
Em feras, plantas, aves, pedras, águas;

Ouçam a longa história de meus males,
E curem sua dor com minha dor;
Que grandes mágoas podem curar mágoas.

Vivo em Lembranças, Morro de Esquecido

Doces lembranças da passada glória,
Que me tirou fortuna roubadora,
Deixai-me descansar em paz uma hora,
Que comigo ganhais pouca vitĂłria.

Impressa tenho na alma larga histĂłria
Deste passado bem, que nunca fora;
Ou fora, e não passara: mas já agora
Em mim nĂŁo pode haver mais que a memĂłria.

Vivo em lembranças, morro de esquecido
De quem sempre devera ser lembrado,
Se lhe lembrara estado tĂŁo contente.

Oh quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
Se conhecer soubera o mal presente.

Dos Ilustres Antigos Que Deixaram

Dos ilustres antigos que deixaram
tal nome, que igualou fama Ă  memĂłria,
ficou por luz do tempo a larga histĂłria
dos feitos em que mais se assinalaram.

Se se com cousas destes cotejaram
mil vossas, cada ĂĽa tĂŁo notĂłria,
vencera a menor delas a mor glĂłria
que eles em tantos anos alcançaram.

A glória sua foi; ninguém lha tome.
Seguindo cada um vários caminhos,
estátuas levantando no seu Templo.

VĂłs, honra portuguesa e dos Coutinhos,
ilustre Dom JoĂŁo, com melhor nome
a vĂłs encheis de glĂłria e a nĂłs de exemplo.