Sonetos sobre Dia de Euclides da Cunha

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Sonetos de dia de Euclides da Cunha. Leia este e outros sonetos de Euclides da Cunha em Poetris.

ReminiscĂŞncia

Um dia a vi, nas lamas da miséria,
Como entre pântanos um branco lírio,
Velada a fronte em palidez funérea,
O frio véu das noivas do martírio!

Pedia esmola — pequena e séria —
Os seios, pastos de eternal delĂ­rio,
Cobertos eram de uma cor cinérea —
Seus olhos tinham o brilhar do cĂ­rio.

Tempos depois n’um carro — audaz, brilhante,
Uma mulher eu vi — febril, galante…
Lancei-lhe o olhar e… maldição! tremi…

Ria-se — cĂ­nica, servil… faceira?
O carro n’uma nuvem de poeira
Se arremessou… e eu nunca mais a vi!

Marat

Foia a alma cruel das barricadas!…
Misto de luz e lama!… se ele ria,
As pĂşrpuras gelavam-se e rangia
Mais de um trono, se dava gargalhadas!…

Fanático da luz… porĂ©m seguia
Do crime as torvas, lĂ­vidas pisadas.
Armava, à noite, aos corações ciladas,
Batia o despotismo Ă  luz do dia.

No seu cérebro tremente negrejavam
Os planos mais cruéis e cintilavam
As idéias mais bravas e brilhantes.

Há muito que um punhal gelou-lhe o seio.
Passou… deixou na histĂłria um rastro cheio
De lágrimas e luzes ofuscantes.

Comparação

“Eu sou fraca e pequena…”
Tu me disseste um dia.
E em teu lábio sorria
Uma dor tĂŁo serena,

Que em mim se refletia
Amargamente amena,
A encantadora pena
Que em teus olhos fulgia.

Mas esta mágoa, o tê-la
É um engano profundo.
Faze por esquecĂŞ-la:

Dos céus azuis ao fundo
É bem pequena a estrela… e
E no entretanto – Ă© um mundo!

Stella

A SebastiĂŁo Alves

“Eu sou fraca e pequena…”
Tu me disseste um dia,
E em teu lábio sorria
Uma dor tĂŁo serena,

Que a tua doce pena
Em mim se refletia
– Profundamente fria,
– Amargamente amena!.

Mas essa mágoa, Stella,
De golpe tĂŁo profundo,
Faz tu por esquece-la –

Das vastidões no fundo
– É bem pequena a estrela –
– No entanto – a estrela Ă© um mundo!…