Sonetos sobre Encantamento

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Sonetos de encantamento escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Soneto do Cativo

Se Ă© sem dĂșvida Amor esta explosĂŁo
de tantas sensaçÔes contraditórias;
a sĂłrdida mistura das memĂłrias,
tão longe da verdade e da invenção;

o espelho deformante; a profusĂŁo
de frases insensatas, incensĂłrias;
a cĂșmplice partilha nas histĂłrias
do que os outros dirĂŁo ou nĂŁo dirĂŁo;

se Ă© sem dĂșvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razĂŁo de encantamento e de desprezo;

nĂŁo hĂĄ dĂșvida, Amor, que te nĂŁo fujo
e que, por ti, tĂŁo cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!

Pacto Das Almas (III) Alma Da Almas

Alma da almas, minha irmĂŁ gloriosa,
Divina irradiação do Sentimento,
Quando estarĂĄs no azul Deslumbramento,
Perto de mim, na grande Paz radiosa?!

Tu que Ă©s a lua da MansĂŁo de rosa
Da Graça e do supremo Encantamento,
O cĂ­rio astral do augusto Pensamento
Velando eternamente a FĂ© chorosa,

Alma das almas, meu consolo amigo,
Seio celeste, sacrossanto abrigo,
Serena e constelada imensidade,

Entre os teus beijos de eteral carĂ­cia,
Sorrindo e soluçando de delícia,
Quando te abraçarei na Eternidade?!

Renascimento

A Alma nĂŁo fica inteiramente morta!
Vagas RessurreiçÔes do Sentimento
Abrem jĂĄ, devagar, porta por porta,
Os palĂĄcios reais do Encantamento!

Morrer! Findar! Desfalecer! que importa
Para o secreto e fundo movimento
Que a alma transporta, sublimiza e exorta,
Ao grande Bem do grande Pensamento!

Chamas novas e belas vĂŁo raiando,
VĂŁo se acendendo os lĂ­mpidos altares
E as almas vĂŁo sorrindo e vĂŁo orando…

E pela curva dos longĂ­nquos ares
Ei-las que vĂȘm, como o imprevisto bando
Dos albatrozes dos estranhos mares…

És MĂșsica e a MĂșsica Ouves Triste?

És mĂșsica e a mĂșsica ouves triste?
Doçura atrai doçura e alegria:
porque amas o que a teu prazer resiste,
ou tens prazer sĂł na melancolia?

se a concĂłrdia dos sons bem afinados,
por casados, ofende o teu ouvido,
sĂŁo-te branda censura, em ti calcados,
porque de ti deviam ter nascido.

VĂȘ que uma corda a outra casa bem
e ambas se fazem mĂștuo ordenamento,
como marido e filho e feliz mĂŁe

que, todos num, cantam de encantamento:
É canção sem palavras, vária e em
unĂ­ssono: “sĂł nĂŁo serĂĄs ninguĂ©m”.

Arrependimento

Deste amor torturado e sem ventura
Resta-me o alĂ­vio do arrependimento.
O pouco que me deste de ternura
NĂŁo vale o que te dei de encantamento.

Abri para o teu sonho o firmamento,
Semeei de estrelas tua noite escura.
Dei-te alma, exaltação e sentimento.
Fiz de um bloco de pedra uma criatura.

Hoje, ambos Ă  mercĂȘ de sorte avessa,
Se para te esquecer luto e me esforço,
Manda-me o coração que não te esqueça.

Padecemos idĂȘntico suplĂ­cio:
Tu – corroĂ­da de pena e de remorso,
Eu – com vergonha do meu sacrifĂ­cio.

NĂșpcias PagĂŁs

Braços dados, nĂłs dois, vamos sozinhos…
O teu olhar de encantamento espraias
pelas curvas e sombras dos caminhos
debruados de jasmins e samambaias

HĂĄ queixumes de amor na alma dos ninhos
e as nuvens lembram danças de cambraias…
– na minha mĂŁo ansiosa de carinhos
tonta de amor, a tua mĂŁo, desmaias…

Andamos sobre painas… entre alfombras…
E Ă  luz frouxa da tarde em desalento
misturam-se no chĂŁo as nossas sombras

– Aqui… HĂĄ rosas soltas, desfolhadas…
Nada receies, meu amor – Ă© o vento
em marcha nupcial pelas ramadas!

No Seu Tumulo

Sobre o seu frio berço sepulcral,
Meu espirito resa ajoelhado;
E sente-se perfeito e virginal
Na sua dĂŽr divina concentrado.

CaĂ­, gotas de orvalho matinal!
Astros, caí do céu todo estrelado!
SĂȘcas flĂŽres do zĂ©firo outomnal,
Vinde enfeitar-lhe o tumulo sagrado!

Ó luar da meia noite, encantamento
De sombra, vem cobri-lo! Ó doido Vento,
Dorme com ele, em paz religiosa…

Sobre ele, Ăł terra, sĂȘ brandura apenas;
Faze-te luz, toma o calor das pennas;
SĂȘ MĂŁe perfeita, bĂŽa e carinhosa.

Outonal

Caem as folhas mortas sobre o lago!
Na penumbra outonal, nĂŁo sei quem tece
As rendas do silĂȘncio…Olha, anoitece!
— Brumas longĂ­nquas do PaĂ­s Vago…

Veludos a ondear…MistĂ©rio mago…
Encantamento…A hora que nĂŁo esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a bĂȘnção dum afago…

Outono dos crepĂșsculos doirados,
De pĂșrpuras, damascos e brocados!
— Vestes a Terra inteira de esplendor!

Outono das tardinhas silenciosas,
Das magnĂ­ficas noites voluptuosas
Em que soluço a delirar de amor…

Que Amor Sigo?

Que amor sigo? Que busco? Que desejo?
Que enleo Ă© este vĂŁo da fantasia?
Que tive? Que perdi? Quem me queria?
Quem me faz guerra? Contra quem pelejo?

Foi por encantamento o meu desejo,
e por sombra passou minha alegria;
mostrou-me Amor, dormindo, o que nĂŁo via,
e eu ceguei do que vi, pois jĂĄ nĂŁo vejo.

Fez Ă  sua medida o pensamento
aquela estranha e nova fermosura
e aquele parecer quase divino.

Ou imaginação, sombra ou figura,
Ă© certo e verdadeiro meu tormento:
Eu morro do que vi, do que imagino.

Dizei, Senhora, Da Beleza Ideia:

Dizei, Senhora, da Beleza ideia:
para fazerdes esse ĂĄureo crino,
onde fostes buscar esse ouro fino?
de que escondida mina ou de que veia?

Dos vossos olhos essa luz Febeia,
esse respeito, de um império dino?
Se o alcançastes com saber divino,
se com encantamentos de Medeia?

De que escondidas conchas escolhestes
as perlas preciosas orientais
que, falando, mostrais no doce riso?

Pois vos formastes tal, como quisestes,
vigiai-vos de vĂłs, nĂŁo vos vejais,
fugi das fontes: lembre-vos Narciso.