Mágoas
Quando nasci, num mĂŞs de tantas flores,
Todas murcharam, tristes, langorosas,
Tristes fanaram redolentes rosas,
Morreram todas, todas sem olores.Mais tarde da existĂŞncia nos verdores
Da infância nunca tive as venturosas
Alegrias que passam bonançosas,
Oh! Minha infância nunca teve flores!Volvendo à quadra azul da mocidade,
Minh’alma levo aflita Ă Eternidade,
Quando a morte matar meus dissabores.Cansado de chorar pelas estradas,
Exausto de pisar mágoas pisadas,
Hoje eu carrego a cruz das minhas dores!
Sonetos sobre Eternidade de Augusto dos Anjos
3 resultadosTempos Idos
NĂŁo enterres, coveiro, o meu Passado,
Tem pena dessas cinzas que ficaram;
Eu vivo dessas crenças que passaram,
e quero sempre tĂŞ-las ao meu lado!NĂŁo, nĂŁo quero o meu sonho sepultado
No cemitério da Desilusão,
Que nĂŁo se enterra assim sem compaixĂŁo
Os escombros benditos de um Passado!Ai! NĂŁo me arranques d’alma este conforto!
– Quero abraçar o meu passado morto,
– Dizer adeus aos sonhos meus perdidos!Deixa ao menos que eu suba Ă Eternidade
Velado pelo cĂrio da Saudade,
Ao dobre funeral dos tempos idos!
Debaixo Do Tamarindo
No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fĂşnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilĂssimos trabalhos!Hoje, esta árvore de amplos agasalhos
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!Quando pararem todos os relĂłgios
De minha vida, e a voz dos necrolĂłgios
Gritar nos noticiários que eu morri,Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade,
A minha sombra há de ficar aqui!