Sonetos sobre Quadras

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Sonetos de quadras escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Mágoas

Quando nasci, num mĂŞs de tantas flores,
Todas murcharam, tristes, langorosas,
Tristes fanaram redolentes rosas,
Morreram todas, todas sem olores.

Mais tarde da existĂŞncia nos verdores
Da infância nunca tive as venturosas
Alegrias que passam bonançosas,
Oh! Minha infância nunca teve flores!

Volvendo Ă  quadra azul da mocidade,
Minh’alma levo aflita Ă  Eternidade,
Quando a morte matar meus dissabores.

Cansado de chorar pelas estradas,
Exausto de pisar mágoas pisadas,
Hoje eu carrego a cruz das minhas dores!

Ao Meu Maior Amigo

Quando eu morrer, eu sei, tu escreverás
Triste soneto Ă  morte prematura;
Dirás que a vida cansa em amargura
E, pálido e frio, tu me cantarás.

Nas quadras, reflectido se lerá
De como, vĂŁ e breve, a vida expira
E como em terra funda, dura e fria,
A vida, má ou boa, acabará.

A seguir, nos tercetos, tu dirás
Que a morte é mistério, tudo fugaz,
Verdadeira, talvez, a vida além.

Por fim porás a data, assinarás.
E, relido o soneto, ficarás
Contente por tĂŞ-lo escrito bem.

Se Ă© Doce

Se Ă© doce no recente, ameno Estio
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,
E, lambendo as areias e os verdores,
Mole e queixoso deslizar-se o rio;

Se Ă© doce no inocente desafio
Ouvirem-se os voláteis amadores,
Seus versos modulando e seus ardores
Dentre os aromas de pomar sombrio;

Se é doce mares, céus ver anilados
Pela quadra gentil, de Amor querida,
Que esperta os corações, floreia os prados,

Mais doce Ă© ver-te de meus ais vencida,
Dar-me em teus brandos olhos desmaiados.
Morte, morte de amor, melhor que a vida.

Sonetinho

NĂŁo tenho jeito pra trova
apesar das que já fiz
a quadra lembra uma cova
com a cruz dos versos em X…

Ainda estou vivo e feliz
e do que digo dou prova:
– tentei cantar, numa trova,
e o meu amor pediu bis.

Bem sei que Ă© meu o defeito.
mas uma trova Ă© tĂŁo pouco
que ao meu cantar nĂŁo dá jeito…

SĂł mesmo um poema Ă© capaz
de conter o amor demais
que trago dentro do peito

Inverno

Já na quarta estação final da vida
Estou, do triste Inverno rigoroso.
Fustigado do tempo borrascoso,
Co’a saraiva das asas sacudida.

Gelada tenho a fronte encanecida,
O sangue frio, pálido e soroso.
Compresso está o físico nervoso
E a máquina de todo enfraquecida.

Nesta quadra da fĂşnebre tristeza,
Que alegria terei na sombra escura,
Se enlutada se vĂŞ a Natureza?

SĂł, c’os frutos da má agricultura,
Vago triste no espaço da incerteza
De que a Morte me dĂŞ melhor ventura.