Sonetos sobre Fugitivos de Cruz e Souza

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Sonetos de fugitivos de Cruz e Souza. Leia este e outros sonetos de Cruz e Souza em Poetris.

Êxtase BĂșdico

Abre-me os braços, Solidão profunda,
ReverĂȘncia do cĂ©u, solenidade
Dos astros, tenebrosa majestade,
Ó planetária comunhão fecunda!

Óleo da noite, sacrossanto, inunda
Todo o meu ser, dĂĄ-me essa castidade,
As azuis florescĂȘncias da saudade,
Graça das graças imortais oriunda!

As estrelas cativas no teu seio
DĂŁo-me um tocante e fugitivo enleio,
Embalam-me na luz consoladora!

Abre-me os braços, Solidão radiante,
Funda, fenomenal e soluçante,
Larga e bĂșdica Noite Redentora!

Conciliação

Se essa angĂșstia de amar te crucifica,
NĂŁo Ă©s da dor um simples fugitivo:
Ela marcou-te com o sinete vivo
Da sua estranha majestade rica.

És sempre o Assinalado ideal que fica
Sorrindo e contemplando o céu altivo;
Dos Compassivos Ă©s o compassivo,
Na Transfiguração que glorifica.

Nunca mais de tremer terĂĄs direito…
Da Natureza todo o Amor perfeito
AdorarĂĄs, venerarĂĄs contrito.

Ah! Basta encher, eternamente basta
Encher, encher toda esta Esfera vasta
Da convulsão do teu soluço aflito!

Torre De Ouro

Desta torre desfraldam-se altaneiras,
Por sóis de céus imensos broqueladas,
Bandeiras reais, do azul das madrugadas
E do Ă­ris flamejante das poncheiras.

As torres de outras regiÔes primeiras
No Amor, nas GlĂłrias vĂŁs arrebatadas
NĂŁo elevam mais alto, desfraldadas,
Bravas, triunfantes, imortais bandeiras.

São pavilhÔes das hostes fugitivas,
Das guerras acres, sanguinĂĄrias, vivas,
Da luta que os EspĂ­ritos ufana.

Estandartes herĂłicos, palpitantes,
Vendo em marcha passe aniquilantes
As torvas catapultas do Nirvana!

Foederis Arca

VisĂŁo que a luz dos Astros louros trazes,
Papoula real tecida de neblinas
Leves, etéreas, vaporosas, finas,
Com aromas de lĂ­rios e lilazes.

Brancura virgem do cristal das frases,
Neve serene das regiÔes alpinas,
Willis juncal de mĂŁos alabastrinas,
De fugitivas correçÔes vivazes.

Floresces no meu Verso como o trigo,
O trigo de ouro dentre o sol floresce
E Ă©s a suprema ReligiĂŁo que eu sigo…

O Missal dos Missais, que resplandece,
A igreja soberana que eu bendigo
E onde murmuro a solitĂĄria prece!…

Fogos-FĂĄtuos

HĂĄ certas almas vĂŁs, galvanizadas
De emoção, de pureza, de bondade,
Que como toda a azul imensidade
Chegam a ser de sĂșbito estreladas.

E ficam como que transfiguradas
Por momentos, na vaga suavidade
De quem se eleva com serenidade
Às risonhas, celestes madrugadas.

Mas nada Ă s vezes nelas corresponde
Ao sonho e ninguém sabe mais por onde
Anda essa falsa e fugitiva chama…

É que no fundo, na secreta essĂȘncia,
Essas almas de triste decadĂȘncia
SĂŁo lama sempre e sempre serĂŁo lama.

Almas Indecisas

Almas ansiosas, trĂȘmulas, inquietas,
Fugitivas abelhas delicadas
Das colméias de luz das alvoradas,
Almas de melancĂłlicos poetas.

Que dor fatal e que emoçÔes secretas
vos tornam sempre assim desconsoladas,
Na pungĂȘncia de todas as espadas,
Na dolĂȘncia de todos os ascetas?!

Nessa esfera em que andais, sempre indecisa,
Que tormento cruel vos nirvaniza,
Que agonias titĂąnicas sĂŁo estas?!

Por que nĂŁo vindes, Almas imprevistas,
Para a missĂŁo das lĂ­mpidas Conquistas
E das augustas, imortais Promessas?!