Felina Mulher
Eu quisera depois das lutas acabadas,
na paz dos vegetais adormecer um dia
e nunca mais volver da santa letargia,
meu corpo dando pasto Ă s plantas delicadas.Seria belo ouvir nas moitas perfumadas,
enquanto a mesma seiva em mim também corria,
as sĂŁs vegetações, em Ăntima harmonia,
aos troncos enlaçando as lĂvidas ossadas!Ă“ beleza fatal que há tanto tempo gabo:
se eu volvesse depois feito em jasmins-do-cabo
– gentil metamorfose em que nesta hora penso –tu, felina mulher, com garras de veludo,
havias de trazer meu espĂrito, contudo,
envolto muita vez nas dobras do teu lenço!
Sonetos de Guilherme de Azevedo
3 resultadosO Seu Nome Ă© Muito PrĂłprio Dela
O seu nome Ă© gracioso e muito prĂłprio dela:
Respira um vago tom de mĂşsica inocente;
E lembra a placidez de um lago transparente;
Recorda a emanação tranquila duma estrela.Lembra um tĂtulo bom, que logo nos revela
A ideia do poema. E todo o mundo sente
NĂŁo sei que afinidade entre o seu ar dolente,
a sua morbidezza, e o prĂłprio nome dela.E chego acreditar – ingenuamente o digo –
Que havia um nome em branco, e Deus pensa consigo
Em traduzi-lo enfim numa expressĂŁo qualquer:De forma que a mulher suave e graciosa
Faz parte deste nome um tanto cor-de-rosa,
E este nome gentil faz parte da mulher.
Ó Máquinas Febris
Ó máquinas febris! eu sinto a cada passo,
nos silvos que soltais, aquele canto imenso,
que a nova geração nos lábios traz suspenso
como a estância viril duma epopeia d’aço!Enquanto o velho mundo arfando de cansaço
prostrado cai na luta; em fumo negro e denso
levanta-se a espiral desse moderno incenso
que ofusca os deuses vãos, anuviando o espaço!Vós sois as criações fulgentes, fabulosas,
que, vibrantes, cruéis, de lavas sequiosas,
mordeis o pedestal da velha Majestade!E as grandes combustões que sempre vos consomem
começam, num cadinho, a refundir o homem
fazendo ressurgir mais larga a Humanidade!