Sobre Estas Duras, Cavernosas Fragas
Sobre estas duras, cavernosas fragas,
Que o marinho furor vai carcomendo,
Me estão negras paixões n’alma fervendo
Como fervem no pego as crespas vagas.Razão feroz, o coração me indagas,
De meus erros e sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim!) palpando, e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.Cego a meus males, surdo a teu reclamo,
Mil objectos de horror co’a ideia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo.Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue: eu peno, eu morro.
Sonetos sobre Horror
45 resultadosA Meu Pai Doente
Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas…
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!Que cousa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pesar havia?!– Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim
É bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!
Dilacerações
Ó carnes que eu amei sangrentamente,
Ó volúpias letais e dolorosas,
Essências de heliótropos e de rosas
De essência morna, tropical, dolente…Carnes virgens e tépidas do Oriente
Do Sonho e das Estrelas fabulosas,
Carnes acerbas e maravilhosas,
Tentadoras do sol intensamente…Passai, dilaceradas pelos zeros,
Através dos profundos pesadelos
Que me apunhalam de mortais horrores…Passai, passai, desfeitas em tormentos,
Em lágrimas, em prantos, em lamentos,
Em ais, em luto, em convulsões, em cores…
Ao Rimar Dor com Pensamento
Ao rimar dor com pensamento
escrevo ternura, afecto,
apenas quem me conceda
um gesto, mínimo gestoum poeta não se assassina
ia dizer mas disto não entendes
é a superfície que pretendes
da coisa leve, pequeninaIsto é lama, são entranhas, é lixo,
chama, horror, precipício
que consome, enaltece, afligeem tom maior, menor, e a verdade
capriche. Que em verdade digo:
de aqui em diante – apenas sigo
Mestre, Mestre Querido, Pai De Amor
Mestre, Mestre querido, Pai de Amor,
As glórias que conquistas co’a razão,
Enchendo de prazer teu coração
T’atraem grandes bençãos do Senhor!Os teus louros têm mais vivo fulgor,
Que os ganhos ao ribombo do canhão;
Que os de um Aníbal, d’um Napoleão,
Alcançados das mortes entre o horror.Sim! Que os louros terríveis que Mavorte
Ao soldado concede em dura guerra,
Todos murcha a idéia só da morte!Mas nos teus vero mérito se encerra,
Que não cede do tempo ao braço forte,
E alcançam justo prêmio além da terra!…