Sonetos sobre Imortais de Cruz e Souza

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Sonetos de imortais de Cruz e Souza. Leia este e outros sonetos de Cruz e Souza em Poetris.

Almas Indecisas

Almas ansiosas, trĂȘmulas, inquietas,
Fugitivas abelhas delicadas
Das colméias de luz das alvoradas,
Almas de melancĂłlicos poetas.

Que dor fatal e que emoçÔes secretas
vos tornam sempre assim desconsoladas,
Na pungĂȘncia de todas as espadas,
Na dolĂȘncia de todos os ascetas?!

Nessa esfera em que andais, sempre indecisa,
Que tormento cruel vos nirvaniza,
Que agonias titĂąnicas sĂŁo estas?!

Por que nĂŁo vindes, Almas imprevistas,
Para a missĂŁo das lĂ­mpidas Conquistas
E das augustas, imortais Promessas?!

Alma SolitĂĄria

Ó alma doce e triste e palpitante!
Que cítaras soluçam solitårias
Pelas RegiÔes longínquas, visionårias
Do teu Sonho secreto e fascinante!

Quantas zonas de luz purificante,
Quantos silĂȘncios, quantas sombras vĂĄrias
De esferas imortais imaginĂĄrias
Falam contigo, Ăł Alma cativante!

Que chama acende os teus farĂłis noturnos
E veste os teus mistériosa taciturnos
Dos esplendores do arco de aliança?

Por que és assim, melancolicamente,
Como um arcanjo infante, adolescente,
Esquecido nos vales da Esperança?!

Floresce!

Floresce, vive para a Natureza,
Para o Amor imortal, largo e profundo.
O Bem supremo de esquecer o mundo
Reside nessa lĂ­mpida grandeza.

Floresce para a FĂ©, para a Beleza
Da Luz que Ă© como um vasto mar sem fundo,
Amplo, inflamado, mĂĄgico, fecundo,
De ondas de resplendor e de pureza.

Andas em vĂŁo na Terra, apodrecendo
À toa pelas trevas, esquecendo
A Natureza e os seus aspectos calmos.

Diante da luz que a Natureza encerra
Andas a apodrecer por sobre a Terra,
Antes de apodrecer nos sete palmos!

Horas De Sombra

Horas de sombra, de silĂȘncio amigo
Quando hĂĄ em tudo o encanto da humildade
E que o anjo branco e belo da saudade
Roga por nĂłs o seu perfil antigo.

Horas que o coração nĂŁo vĂȘ perigo
De gozar, de sentir com liberdade…
Horas da asa imortal da Eternidade
Aberta sobre tumular jazigo.

Horas da compaixĂŁo e da clemĂȘncia,
Dos segredos sagrados da existĂȘncia,
De sombras de perdĂŁo sempre benditas.

Horas fecundas, de mistério casto,
Quando dos céus desce, profundo e vasto,
O repouso das almas infinitas.

Metempsicose

Agora, jĂĄ que apodreceu a argila
Do teu corpo divino e sacrossanto;
Que embalsamaram de magoado pranto
A tua carne, na mudez tranqĂŒila,

Agora, que nos Céus, talvez, se asila
Aquela graça e luminoso encanto
De virginal e pĂĄlido amaranto
Entre a Harmonia que nos Céus desfila.

Que da morte o estupor macabro e feio
Congelou as magnĂłlias do teu seio,
Por entre catalĂ©pticas visĂ”es…

Surge, Bela das Belas, na Beleza
Do transcendentalismo da Pureza,
Nas brancas, imortais RessurreiçÔes!

Corpo

VII

Pompas e pompas, pompas soberanas
Majestade serene da escultura
A chama da suprema formosura,
A opulĂȘncia das pĂșrpuras romanas.

As formas imortais, claras e ufanas,
Da graça grega, da beleza pura,
Resplendem na arcangélica brancura
Desse teu corpo de emoçÔes profanas.

Cantam as infinitas nostalgias,
Os mistérios do Amor, melancolias,
Todo o perfume de eras apagadas…

E as ĂĄguias da paixĂŁo, brancas, radiantes,
Voam, revoam, de asas palpitantes,
No esplendor do teu corpo arrebatadas!

Supremo Desejo

Eternas, imortais origens vivas
Da Luz, do Aroma, segredantes vozes
Do mar e luares de contemplativas,
Vagas visĂ”es volĂșpicas, velozes…

Aladas alegrias sugestivas
De asa radiante e branca de albornozes,
Tribos gloriosas, fulgidas, altivas,
De condores e de ĂĄguias e albatrozes…

Espiritualizai nos Astros louros,
Do sol entre os clarÔes imorredouros
Toda esta dor que na minh’alma clama…

Quero vĂȘ-la subir, ficar cantando
Na chama das Estrelas, dardejando
Nas luminosas sensaçÔes da chama.

O Anjo Da Redenção

Soberbo, branco, etereamente puro,
Na mĂŁo de neve um grande facho aceso,
Nas nevroses astrais dos sĂłis surpreso,
Das trevas deslumbrando o caos escuro.

Portas de bronze e pedra, o horrendo muro
Da masmorra mortal onde estĂĄs preso
Desce, penetra o Arcanjo branco, ileso
Do Ăłdio bifronte, torso, torvo e duro.

Maravilhas nos olhos e prodĂ­gios
Nos olhos, chega dos azuis litĂ­gios
Desce Ă  tua caverna de bandido.

E sereno, agitando o estranho facho,
PÔe-te aos pés e a cabeça, de alto a baixo,
Auréolas imortais de Redimido!

EspĂ­rito Imortal

EspĂ­rito imortal que me fecundas
Com a chama dos viris entusiasmos,
Que transformas em glĂĄdios os sarcasmos
Para punir as multidÔes profundas!

Ó alma que transbordas, que me inundas
De brilhos, de ecos, de emoçÔes, de pasmos
E fazes acordar de atros marasmos
Minh’alma, em tĂ©dios por charnecas fundas.

Força genial e sacrossanta e augusta,
Divino Alerta para o Esquecimento,
Voz companheira, carinhosa e justa.

Tens minha MĂŁo, num doce movimento,
Sobre essa Mão angélica e robusta,
EspĂ­rito imortal do Sentimento!

Sorriso Interior

O ser que Ă© ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo esse brasĂŁo augusto
Do grande amor, da nobre fĂ© tranqĂŒila.

Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem Ăąnsias e sem custo…
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.

Ondas interiores de grandeza
DĂŁo-lhe essa glĂłria em frente Ă  Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflĂșvio.

O ser que Ă© ser tranforma tudo em flores…
E para ironizar as prĂłprias dores
Canta por entre as ĂĄguas do DilĂșvio!

Ser Dos Seres

No teu ser de silĂȘncio e d’esperança
A doce luz das AmplidÔes flameja.
Ele sente, ele aspira, ele deseja
A grande zona da imortal Bonança.

Pelos largos espaços se balança
Como a estrela infinita que dardeja,
Sempre isento da Treva que troveja
O clamor inflamado da Vingança.

Por entre enlevos e deslumbramentos
Entra na Força astral dos Sentimentos
E do Poder nos mĂĄgicos poderes.

E traz, embora os íntimos cansaços,
Ânsias secretas para abrir os braços
Na generosa comunhĂŁo dos Seres!

Imortal Atitude

Abre os olhos Ă  Vida e fica mudo!
Oh! Basta crer indefinidamente
Para ficar iluminado tudo
De uma luz imortal e transcendente.

Crer Ă© sentir, como secreto escudo,
A alma risonha, lĂșcida, vidente…
E abandonar o sujo deus cornudo,
O sĂĄtiro da Carne impenitente.

Abandonar os lĂąnguidos rugidos,
O infinito gemido dos gemidos
Que vai no lodo a carne chafurdando.

Erguer os olhos, levantar os braços
Para o eterno SilĂȘncio dos Espaços
E no SilĂȘncio emudecer olhando…

Eternos Atalaias

Os sentimentos servem de atalaias
Para guiar as multidÔes errantes
Que caminham tremendo, vacilantes
Pelas desertas, infinitas praias…

Abrangendo da Terra as fundas raias,
Atingindo as esferas mais distantes,
SĂŁo como incensos, mirras odorantes,
Miraculosas, fĂșlgidas alfaias.

Tudo em que logo transfiguram,
Encantam tudo,tudo em torno apuram,
Penetram, sem cessar, por toda parte.

Alma por alma em toda a parte enflamam.
E grandes, largos, imortais, derramam
As melancĂłlicas estrelas d’Arte!

SatĂŁ

Capro e revel, com os fabulosos cornos
Na fronte real de rei dos reis vetustos,
Com bizarros e lĂșbricos contornos,
Ei-lo SatĂŁ dentre os SatĂŁs augustos.

Por verdes e por bĂĄquicos adornos
Vai c’roado de pĂąmpanos venustos
O deus pagĂŁo dos Vinhos acres, mornos,
Deus triunfador dos triunfadores justos.

Arcangélico e audaz, nos sóis radiantes,
A pĂșrpura das glĂłrias flamejantes,
Alarga as asas de relevos bravos…

O Sonho agita-lhe a imortal cabeça…
E solta aos sĂłis e estranha e ondeada e espessa
Canta-lhe a juba dos cabelos flavos!

Olhos

II
A GrĂ©cia d’Arte, a estranha claridade
D’aquela GrĂ©cia de beleza e graça,
Passa, cantando, vai cantando e passa
Dos teus olhos na eterna castidade.

Toda a serena e altiva heroicidade
Que foi dos gregos a imortal couraça,
Aquele encanto e resplendor de raça
Constelada de antiga majestade,

Da Atenas flórea toda o viço louro,
E as rosas e os mirtais e as pompas d’ouro,
OdissĂ©ias e deuses e galeras…

Na sonolĂȘncia de uma lua aziaga,
Tudo em saudade nos teus olhos vaga,
Canta melancolias de outras eras!…

Flores Da Lua

Brancuras imortais da Lua Nova
Frios de nostalgia e sonolĂȘncia…
Sonhos brancos da Lua e viva essĂȘncia
Dos fantasmas noctĂ­vagos da Cova.

Da noite a tarda e taciturna trova
Soluça, numa tremula dormĂȘncia…
Na mais branda, mais leve florescĂȘncia
Tudo em VisÔes e Imagens se renova.

Mistérios virginais dormem no Espaço,
Dormem o sono das profundas seivas,
MonĂłtono, infinito, estranho e lasso…

E das Origens na luxĂșria forte
Abrem nos astros, nas sidéreas leivas
Flores amargas do palor da Morte.

Canção Da Formosura

Vinho de sol ideal canta e cintila
Nos teus olhos, cintila e aos lĂĄbios desce,
Desce a boca cheirosa e a empurpurece,
Cintila e canta apĂłs dentre a pupila.

Sobe, cantando, a limpidez tranqĂŒila
Da tu’alma estrelada e resplandece,
Canta de novo e na doirada messe
Do teu amor, se perpetua e trila…

Canta e te alaga e se derrama e alaga…
Num rio de ouro, iriante, se propaga
Na tua carne alabastrina e pura.

Cintila e canta na canção das cores,
Na harmonia dos astros sonhadores,
A Canção imortal da Formosura!

Êxtase BĂșdico

Abre-me os braços, Solidão profunda,
ReverĂȘncia do cĂ©u, solenidade
Dos astros, tenebrosa majestade,
Ó planetária comunhão fecunda!

Óleo da noite, sacrossanto, inunda
Todo o meu ser, dĂĄ-me essa castidade,
As azuis florescĂȘncias da saudade,
Graça das graças imortais oriunda!

As estrelas cativas no teu seio
DĂŁo-me um tocante e fugitivo enleio,
Embalam-me na luz consoladora!

Abre-me os braços, Solidão radiante,
Funda, fenomenal e soluçante,
Larga e bĂșdica Noite Redentora!

Imortal Falerno

Quando as Esferas da IlusĂŁo transponho
Vejo sempre tu’alma – essa galera
Feita das rosas brancas da Quimera,
Sempre a vagar no estranho mar do Sonho.

Nem aspecto nublado nem tristonho!
Sempre uma doce e constelada Esfera,
Sempre uma voz clamando: – espera, espera,
Lå do fundo de um céu sempre risonho.

Sempre uma voz dos Ermos, das DistĂąncias!
Sempre as longĂ­nquas, mĂĄgicas fragrĂąncias
De uma voz imortal, divina,pura…

E tua boca, Sonhador eterno,
Sempre sequiosa desse azul falerno
Da Esperança do céu que te procura!

Alma Mater

Alma da Dor, do Amor e da Bondade,
Alma purificada no Infinito,
PerdĂŁo santo de tudo o que Ă© maldito,
Harpa consoladora da Saudade!

Das estrelas serena virgindade,
Alma sem um soluço e sem um grito,
Da alta Resignação, da alta Piedade!
Tu, que as profundas lĂĄgrimas estancas

E sabes levantar Imagens brancas
No silencio e na sombra mais velada…

Derrama os lĂ­rios, os teus lĂ­rios castos,
Em JordÔes imortais, vastos e vastos,
No fundo da minh’alma lacerada!