Sonetos sobre ImpossĂ­vel de Florbela Espanca

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Sonetos de impossĂ­vel de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.

Amor que morre

O nosso amor morreu… Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria…
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre… e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia…

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
SĂŁo precisos amores, pra morrer,
E sĂŁo precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!

Mais Alto

Mais alto, sim! Mais alto, mais além
Do sonho, onde morar a dor da vida,
Até sair de mim! Ser a Perdida,
A que se nĂŁo encontra! Aquela a quem

O mundo não conhece por Alguém!
Ser orgulho, ser águia na subida,
Até chegar a ser, entontecida,
Aquela que sonhou o meu desdém!

Mais alto, sim! Mais alto! A IntangĂ­vel
Turris Eburnea erguida nos espaços,
Ă€ rutilante luz dum impossĂ­vel!

Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber
O mal da vida dentro dos meus braços,
Dos meus divinos braços de Mulher!

O Meu CondĂŁo

Quis Deus dar-me o condĂŁo de ser sensĂ­vel
Como o diamante Ă  luz que o alumia,
Dar-me uma alma fantástica, impossível:
– Um bailado de cor e fantasia!

Quis Deus fazer de ti a ambrosia
Desta paixĂŁo estranha, ardente, incrĂ­vel!
Erguer em mim o facho inextinguĂ­vel,
Como um cinzel vincando uma agonia!

Quis Deus fazer-me tua… para nada!
– VĂŁos, os meus braços de crucificada,
InĂşteis, esses beijos que te dei!

Anda! Caminha! Aonde?… Mas por onde?…
Se a um gesto dos teus a sombra esconde
O caminho de estrelas que tracei…