Amor que morre
O nosso amor morreu… Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!Bem estava a sentir que ele morria…
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre… e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia…Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
SĂŁo precisos amores, pra morrer,
E sĂŁo precisos sonhos para partir.E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossĂvel que há-de vir!
Sonetos sobre ImpossĂvel de Florbela Espanca
3 resultadosMais Alto
Mais alto, sim! Mais alto, mais além
Do sonho, onde morar a dor da vida,
Até sair de mim! Ser a Perdida,
A que se não encontra! Aquela a quemO mundo não conhece por Alguém!
Ser orgulho, ser águia na subida,
Até chegar a ser, entontecida,
Aquela que sonhou o meu desdĂ©m!Mais alto, sim! Mais alto! A IntangĂvel
Turris Eburnea erguida nos espaços,
Ă€ rutilante luz dum impossĂvel!Mais alto, sim! Mais alto! Onde couber
O mal da vida dentro dos meus braços,
Dos meus divinos braços de Mulher!
O Meu CondĂŁo
Quis Deus dar-me o condĂŁo de ser sensĂvel
Como o diamante Ă luz que o alumia,
Dar-me uma alma fantástica, impossĂvel:
– Um bailado de cor e fantasia!Quis Deus fazer de ti a ambrosia
Desta paixĂŁo estranha, ardente, incrĂvel!
Erguer em mim o facho inextinguĂvel,
Como um cinzel vincando uma agonia!Quis Deus fazer-me tua… para nada!
– VĂŁos, os meus braços de crucificada,
InĂşteis, esses beijos que te dei!Anda! Caminha! Aonde?… Mas por onde?…
Se a um gesto dos teus a sombra esconde
O caminho de estrelas que tracei…