Sonetos sobre Infiéis de Cláudio Manuel da Costa

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Sonetos de infiéis de Cláudio Manuel da Costa. Leia este e outros sonetos de Cláudio Manuel da Costa em Poetris.

XXXIV

Que feliz fora o mundo, se perdida
A lembrança de amor, de amor a glória,
Igualmente dos gostos a memĂłria
Ficasse para sempre consumida!

Mas a pena mais triste, e mais crescida
É ver; que em nenhum tempo é transitória
Esta de amor fantástica vitória,
Que sempre na lembrança é repetida.

Amantes, os que ardeis nesse cuidado,
Fugi de amor ao venenoso intento,
Que lá para o depois vos tem guardado.

NĂŁo vos engane o infiel contentamento;
Que esse presente bem, quando passado,
Sobrará para idéia do tormento.

III

Pastores, que levais ao monte o gado,
Vêde lá como andais por essa serra;
Que para dar contágio a toda a terra,
Basta ver se o meu rosto magoado:

Eu ando (vĂłs me vĂŞdes) tĂŁo pesado;
E a pastora infiel, que me faz guerra,
É a mesma, que em seu semblante encerra
A causa de um martĂ­rio tĂŁo cansado.

Se a quereis conhecer, vinde comigo,
Vereis a formosura, que eu adoro;
Mas nĂŁo; tanto nĂŁo sou vosso inimigo:

Deixai, nĂŁo a vejais; eu vo-lo imploro;
Que se seguir quiserdes, o que eu sigo,
Chorareis, Ăł pastores, o que eu choro.