Sonetos sobre Choro de Cláudio Manuel da Costa

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Sonetos de choro de Cláudio Manuel da Costa. Leia este e outros sonetos de Cláudio Manuel da Costa em Poetris.

III

Pastores, que levais ao monte o gado,
Vêde lá como andais por essa serra;
Que para dar contágio a toda a terra,
Basta ver se o meu rosto magoado:

Eu ando (vĂłs me vĂŞdes) tĂŁo pesado;
E a pastora infiel, que me faz guerra,
É a mesma, que em seu semblante encerra
A causa de um martĂ­rio tĂŁo cansado.

Se a quereis conhecer, vinde comigo,
Vereis a formosura, que eu adoro;
Mas nĂŁo; tanto nĂŁo sou vosso inimigo:

Deixai, nĂŁo a vejais; eu vo-lo imploro;
Que se seguir quiserdes, o que eu sigo,
Chorareis, Ăł pastores, o que eu choro.

LXXXI

Junto desta corrente contemplando
Na triste falta estou de um bem que adoro;
Aqui entre estas lágrimas, que choro,
Vou a minha saudade alimentando.

Do fundo para ouvir-me vem chegando
Das claras hamadrĂ­ades o coro;
E desta fonte ao murmurar sonoro,
Parece, que o meu mal estĂŁo chorando.

Mas que peito há de haver tão desabrido,
Que fuja Ă  minha dor! que serra, ou monte
Deixará de abalar-se a meu gemido!

Igual caso nĂŁo temo, que se conte;
Se até deste penhasco endurecido
O meu pranto brotar fez uma fonte.

IV

Sou pastor; nĂŁo te nego; os meus montados
SĂŁo esses, que aĂ­ vĂŞs; vivo contente
Ao trazer entre a relva florescente
A doce companhia dos meus gados;

Ali me ouvem os troncos namorados,
Em que se transformou a antiga gente;
Qualquer deles o seu estrago sente;
Como eu sinto também os meus cuidados.

VĂłs, Ăł troncos, (lhes digo) que algum dia
Firmes vos contemplastes, e seguros
Nos braços de uma bela companhia;

Consolai-vos comigo, Ăł troncos duros;
Que eu alegre algum tempo assim me via;
E hoje os tratos de Amor choro perjuros.