A Rua Dos Cataventos – XVII
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que nĂŁo tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mĂŁo avaramente adunca
NĂŁo haverĂŁo de arracar a luz sagrada!Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trĂŞmula e triste como um ai,
A luz de um morto nĂŁo se apaga nunca!
Sonetos sobre Luz de Mário Quintana
3 resultadosA Rua Dos Cataventos – I
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta Ă© cor das venezianas:
Verde!… E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons… acerta… desacerta…
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas…Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever atĂ© me esqueço…
Pra que pensar? TambĂ©m sou da paisagem…Vago, solĂşvel no ar, fico sonhando…
E me transmuto… iriso-me… estremeço…
Nos leves dedos que me vĂŁo pintando!
A Rua Dos Cataventos – IX – Para EmĂlio Kemp
É a mesma a ruazinha sossegada.
Com as velhas rondas e as canções de outrora…
E os meus lindos pregões da madrugada
Passam cantando ruazinha em fora!Mas parece que a luz está cansada…
E, nĂŁo sei como, tudo tem, agora,
Essa tonalidade amarelada
Dos cartazes que o tempo descolora…Sim, desses cartazes ante os quais
NĂłs Ă s vezes paramos, indecisos…
Mas para quĂŞ?… Se nĂŁo adiantam mais!…Pobres cartazes por aĂ afora
Que inda anunciam: – Alegrias – Risos
Depois do Circo já ter ido embora!…