Sonetos sobre Ninguém de Glauco Mattoso

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Sonetos de ninguém de Glauco Mattoso. Leia este e outros sonetos de Glauco Mattoso em Poetris.

Soneto 252 Qualitativo

Repito que um é dote, dois é dom,
mas três já é defeito, tenha dó!
Camões fez “Alma minha” e o do Jacó:
Terceiro é mui difícil ser tão bom.

A tanto inda acrescento, alto e bom som:
Falar de sentimento, por si só,
não faz de nenhum verso um pão-de-ló,
nem temas de bom tom são só bombom.

Fazer soneto às pencas, outrossim,
não dá patente máxima a ninguém,
nem livra alguém do nível do ruim.

Fiquemos no bom senso, que mantém
a média de dois bons, até pra mim,
que, perto de Camões, sou muito aquém.

Soneto 270 A Dercy Gonçalves

Recusa-se a morrer. Não morrerá.
Talvez caricatura, a sua vida,
vestal, velha vedete travestida,
inverte o que o pariu pra puta vá.

Vai ser a cibernética babá
de toda meninice reprimida.
Ninguém faz saturnal se não convida
a nossa sideral gueixa gagá.

Mostrou a perereca da vizinha
apenas pra alegrar a garotada.
Com ela é pau no cu da carochinha.

Pôs cada palavrão numa piada.
Passou. Não passará. Brilha sozinha.
Estrela d’Alva, salva da alvorada.

Soneto 549 Tematizado

De duas coisas todo bom poeta
dever tem de falar para ser posto
no círculo dos grandes e no gosto
do povo ser mais um que se projeta:

de estrelas e de rosas. Nada veta
que seja seu soneto só composto
de pétalas que espelhem-lhe o desgosto
do amor que feneceu e nos afeta.

Também ninguém proíbe que as estrelas
figurem esperanças ou paixões
e todos os sonetos tentem lê-las.

Não morre um de Bilac ou de Camões,
mas falta o que um poeta mede pelas
(dum cego) fantasias e visões…