Sonetos sobre Operários

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Sonetos de operários escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Espinosa

Gosto de ver-te, grave e solitário,
Sob o fumo de esquálida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operário,
E na cabeça a coruscante idéia.

E enquanto o pensamento delineia
Uma filosofia, o pão diário
A tua mĂŁo a labutar granjeia
E achas na independência o teu salário.

Soem cá fora agitações e lutas,
Sibile o bafo aspérrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas, e executas

SĂłbrio, tranqĂĽilo, desvelado e terno,
A lei comum, e morres, e transmutas
O suado labor no prĂŞmio eterno.

A Rua Dos Cataventos – VI

Na minha rua há um menininho doente.
Enquanto os outros partem para a escola,
Junto Ă  janela, sonhadoramente,
Ele ouve o sapateiro bater sola.

Ouve também o carpinteiro, em frente,
Que uma canção napolitana engrola.
E pouco a pouco, gradativamente,
O sofrimento que ele tem se evola. . .

Mas nesta rua há um operário triste:
NĂŁo canta nada na manhĂŁ sonora
E o menino nem sonha que ele existe.

Ele trabalha silenciosamente. . .
E está compondo este soneto agora,
Pra alminha boa do menino doente. . .

Psicologia De Um Vencido

Eu, filho do carbono e do amonĂ­aco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

ProfundĂ­ssimamente hipocondrĂ­aco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardĂ­aco.

já o verme – este operário das ruĂ­nas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e Ă  vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roĂŞ-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!