Sonetos sobre PaixĂŁo de Olavo Bilac

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XXXIII

Quando adivinha que vou vĂȘ-Ia, e Ă  escada
Ouve-me a voz e o meu andar conhece,
Fica pĂĄlida, assusta-se, estremece,
E nĂŁo sei por que foge envergonhada.

Volta depois. À porta, alvoroçada,
Sorrindo, em fogo as faces, aparece:
E talvez entendendo a muda prece
De meus olhos, adianta-se apressada.

Corre, delira, multiplica os passos;
E o chĂŁo, sob os seus passos murmurando,
Segue-a de um hino, de um rumor de festa

E ah! que desejo de a tomar nos braços,
O movimento rĂĄpido sustando
Das duas asas que a paixĂŁo lhe empresta.

XV

Inda hoje, o livro do passado abrindo,
Lembro-as e punge-me a lembrança delas;
Lembro-as, e vejo-as, como as vi partindo,
Estas cantando, soluçando aquelas.

Umas, de meigo olhar piedoso e lindo,
Sob as rosas de neve das capelas;
Outras, de lĂĄbios de coral, sorrindo,
Desnudo o seio, lĂșbricas e belas…

Todas, formosas como tu, chegaram,
Partiram… e, ao partir, dentro em meu seio
Todo o veneno da paixĂŁo deixaram.

Mas, ah! nenhuma teve o teu encanto,
Nem teve olhar como esse olhar, tĂŁo cheio
De luz tĂŁo viva, que abrasasse tanto.

MĂșsica Brasileira

Tens, Ă s vezes, o fogo soberano
Do amor: encerras na cadĂȘncia, acesa
Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço do pecado humano.

Mas, sobre essa volĂșpia, erra a tristeza
Dos desertos, das matas e do oceano:
Bårbara poracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.

És samba e jongo, xiba e fado, cujos
Acordes sĂŁo desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:

E em nostalgias e paixÔes consistes,
Lasciva dor, beijo de trĂȘs saudades,
Flor amorosa de trĂȘs raças tristes.

Incontentado

PaixĂŁo sem grita, amor sem agonia,
Que nĂŁo oprime nem magoa o peito,
Que nada mais do que possui queria,
E com tĂŁo pouco vive satisfeito.

Amor, que os exageros repudia,
Misturado de estima e de respeito,
E, tirando das mĂĄgoas alegria,
Fica farto, ficando sem proveito.

Viva sempre a paixĂŁo que me consome,
Sem uma queixa, sem um sĂł lamento!
Arda sempre este amor que desanimas!

Eu eu tenha sempre, ao murmurar teu nome,
O coração, malgrado o sofrimento,
Como um rosal desabrochado em rimas.