Sonetos sobre Projetos

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Sonetos de projetos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

É Bem Feliz

É bem feliz por certo, o que somente
Ao rĂşstico lavor acostumado
Conduzir sabe os bois, reger o arado,
E dar Ă  terra a provida semente.

A arte de a lavrar sempre inocente
Estuda sĂł, e ignora afortunado
As novas leis, as máximas de Estado,
E os documentos de enganar a gente.

Projectos vĂŁos nĂŁo forma, e sempre isento
Da soberba ambição, nunca a Lisboa
Foi dobrar o joelho ao valimento.

Cabana humilde, onde nasceu, povoa;
E seguro no prĂłprio abatimento,
SĂł tem medo do CĂ©u, quando trovoa.

VolĂşvel do Homem Foi Sempre a Vontade

Sobre as asas do Tempo, que nĂŁo cansa,
Nossos gostos se vão, nossas paixões
Os projectos, sistemas e opiniões
Cos tempos que se mudam tem mudança.

Não pode haver no mundo segurança
Entre o vário montão de inclinações,
Pois sujeita a Vontade a mil baldões
No variável moto não descansa.

Nas nossas quatro Ă©pocas da idade
Temos mudanças mil: nossa fraqueza
Sujeita está, do Tempo, à variedade.

Na inconstância jamais houve firmeza:
VolĂşvel do homem foi sempre a vontade,
Por defeito comum da Natureza.

MarĂ­lia De Dirceu

Soneto 12

Obrei quando o discurso me guiava,
Ouvi aos sábios quando errar temia;
Aos Bons no gabinete o peito abria,
Na rua a todos como iguais tratava.

Julgando os crimes nunca os votos dava
Mais duro, ou pio do que a Lei pedia;
Mas devendo salvar ao justo, ria,
E devendo punir ao réu, chorava.

NĂŁo foram, Vila Rica, os meus projetos
Meter em fĂ©rreo cofre cĂłpia d’ouro
Que farte aos filhos, e que chegue aos netos:

Outras sĂŁo as fortunas, que me agouro,
Ganhei saudades, adquiri afetos,
Vou fazer destes bens melhor tesouro.

Obrei quanto o Discurso me Guiava

Obrei quanto o discurso me guiava,
Ouvi aos sábios quando errar temia;
Aos bons no gabinete o peito abria,
Na rua a todos como iguais tratava.

Julgando os crimes nunca os votos dava,
Mais duro, ou pio do que a lei pedia:
Mas devendo salvar ao justo ria,
E devendo punir aos réu chorava.

NĂŁo foram, Vila Rica, os meus projetos,
Meter em ferro cofre cĂłpia de ouro,
Que farte aos filhos, e que chegue aos netos:

Outras sĂŁo as fortunas, que me agouro,
Ganhei saudades, adquiri afetos,
Vou fazer deste bens melhor tesouro.

Importuna RazĂŁo, NĂŁo Me Persigas;

Importuna RazĂŁo, nĂŁo me persigas;
Cesse a rĂ­spida voz que em vĂŁo murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas:

Se acusas os mortais, e os nĂŁo abrigas,
Se ( conhecendo o mal ) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna RazĂŁo, nĂŁo me persigas.

É teu fim, teu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo:

Queres que fuja de MarĂ­lia bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.